Com novas emoções e piadas repetidas, ‘Divertida Mente 2′ é mais um acerto da Pixar
Após alguns deslizes (Lightyear), fracassos de bilheteria (Elemental) e uma franquia que passou longe de ser popular (Carros), a Pixar definitivamente acertou de novo. Para isso, lançou a sequência de uma de suas melhores obras, Divertida Mente.
Para lidar com as altas expectativas — não apenas de fãs de longa data, mas também do público de verão nos Estados Unidos, período que concentra os maiores lançamentos do cinema —, a empresa recorreu a uma conhecida combinação: novas emoções e piadas repetidas, mas com excelente timing. É uma aposta segura, mas que resulta em um filme engraçado e emocionante.
Como a animação anterior, Divertida Mente 2 mostra a cabeça de Riley, que chega a alarmante era da adolescência. O forte da franquia é a representação interior da mente de sua protagonista, e a chegada da puberdade é mostrada como o toque inesperado de um alarme barulhento, seguido de reformas caóticas em toda a sala de comando de emoções. O espaço maior dentro da mente de Riley é também sinal da chegada de novas emoções, mais complexas para lidar com o mundo ao redor, incluindo a devastadora Ansiedade — assim como Tédio (que está mais para Blasé ou “Tô nem aí”), Nostalgia, Inveja e Vergonha.
Para tornar tudo ainda mais intenso, Riley é convidada para uma sessão de testes do time de hóquei campeão do ensino médio. Temos aí os ingredientes esperados de uma jornada que dura poucos dias, mas mostra reviravoltas envolvendo amizades, competitividade, esforço e busca de identidade. Como aprendemos rápido, a puberdade é uma bagunça.
Não demora, para Ansiedade dominar a sala, com sua capacidade de antecipação do futuro e evitar situações traumáticas. Com Ansiedade, Riley passa a temer como se relaciona com o mundo, e se ajusta a ele a cada segundo até experimentar um colapso. Após alguns atritos, as antigas emoções são aprisionadas em um porão e vigiadas por policiais atrapalhados.
É aí que a animação investe em uma trama já conhecida e repetida, em que não existem vilões, mas confusões e erros emocionais. As emoções “amigáveis” deixadas de fora da sala de comando, e, na jornada de retorno, conseguem aprender mais não apenas sobre os próprios defeitos e novos cantos da mente de Riley, mas também acerca das qualidades dos outros.
Não é apenas a história que se repete, mas também certas piadas. O jeito ranzinza de Raiva, um contraste com o conteúdo geralmente fofo do longa, é um recurso recorrente de humor. O longa também faz uso constante de termos comuns da internet, como “cancelar” e “lacrar”, que são uma piscadela por si só para um público plenamente acostumado a rolar feeds sem parar.
Raiva também faz uma dupla perfeita de tiradas com a novata Tédio, que sintetiza muito bem a nova linguagem padrão da web, conhecida como pós-ironia. A ação dela é tão poderosa que cria uma fenda psicológica conhecido como “abismo do sarcasmo”, uma ideia tão inovadora que remete ao “senso de identidade” do primeiro longa.
De uma forma geral, este é um terreno conhecido. Enquanto as emoções caminham em espaço acidentado, Riley sofre para se enturmar e obter equilíbrio em suas reações — manter a amizade com as amigas do ensino fundamental, que vão para outra escola, ou desenvolver relações com as duronas jogadores do time de hóquei?
A urgência do período curto em que se passa a trama não nos dá tanto tempo assim de ficar comovidos, como no Divertida Mente anterior, mas ainda entretém e arranca boas risadas. É uma aposta cuidadosamente estudada da Pixar, que pode desanimar pela falta de inovação, mas que ainda guarda uma boa dose de emoção e deve ser mais um sucesso da produtora, após alguns erros e queda de público.
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