‘Vagabunda, merece o pior tipo de morte, desgraçada’: advogada relata ataques e ameaças de fãs de Prior durante processo por estupro
- Homem: “Eu quero conversar com você, Maira.”
- Maira: “Você é parente dele [Felipe Prior]? Quem é você?.”
- Homem: “Eu sou uma pessoa muito informada, eu sei onde a Themis mora, onde todas as outras meninas moram”
- Maira: “Você é da polícia? Alguém te passou?”
- Homem: “Eu tenho as minhas fontes. Investigando, normalmente…”
- Maira: “Você sabe que está praticando o crime de coação no curso do processo?”
- Homem: “Você tá perdendo tempo, eu tenho muitas fontes. […] Você que sabe…”
O diálogo acima aconteceu na madrugada de julho de 2021 entre a advogada criminalista Maira Pinheiro e um homem de identidade desconhecida. Na ocasião, a jurista recebeu mais de 20 ligações telefônicas de um número anônimo. Decidiu atender porque não aguentava mais a perturbação.
Essa foi apenas uma das vezes em que Maira foi atacada por representar Themis* no caso em que a mulher denunciou o ex-BBB Felipe Prior por estupro. Ele foi condenado a seis anos de prisão em regime semiaberto no início do mês.
(*nome fictício adotado pela defesa a fim de preservar a identidade da vítima)
Ao longo de três anos e meio de processo, a advogada contou que, em diversos momentos, teve a caixa de entrada das redes sociais lotada com mensagens de ódio e xingamentos feitos por fãs de Prior.
“Os fãs dele são muito virulentos. Minhas redes sociais chegavam a ter mais de 100 mensagens, todas de ataque, de ódio, me xingando com palavras machistas, me atacando no exercício da profissão. A minha imagem foi muito explorada. Mas isso faz parte do jogo né? A gente não tem medo de fanático.”
“Vagabunda, vadia. Esse tipo de palavra. Porque é isso que nós mulheres somos quando desagradamos o patriarcado. E como a gente estava indo para cima de um criminoso em série, que tem um padrão de predação de mulheres, a gente desagrada o patriarcado. Mas não é algo que nos intimide”, garantiu.
Maira compartilhou com algumas das mensagens recebidas. Entre as ofensas, estão os termos: “vagabunda, bandida, pilantra, rata, nojenta, desgraçada, imunda, arrombada, merece o pior tipo de morte e safada”. Confira:
Advogada recebeu ataques nas redes sociais
A advogada relatou que os colegas homens que atuaram no caso não receberam o mesmo tratamento: “Para as mulheres, ser atacada e ameaçada no exercício da profissão é mais comum do que para os homens”.
Themis também sofreu com ataques
Após denunciar o ex-BBB em 2020, Themis também sofreu ataques nas redes sociais.
“Muitas mensagens de ódio, perseguições, pessoas ameaçando não só a mim, mas as outras meninas também, falando que a gente estava atrás de fama. Eu estou em anonimato porque eu não quero ser marcada por essa história”, pontuou.
“Foi muito doloroso ver as pessoas comentando sobre o processo e tudo o que aconteceu de uma forma muito agressiva. Em cima de nós. Ser desconsiderada dessa forma e sem ao menos saber a minha história e considerar a nossa dor. Foi muito doloroso”, lamentou.
Após a condenação, Prior publicou uma nota nas redes sociais dizendo ser inocente e que vai recorrer da decisão. Os comentários da postagem foram limitados e apenas os de apoio foram mantidos.
“Fico triste por essas pessoas, de não conseguirem enxergar a verdade. Sabe… Tantas mulheres falando o que aconteceu, tantas evidências, a nossa questão social, cultural, tudo o que vem acontecendo. Isso ultrapassa o meu processo. Será que a gente não chegou ao momento da nossa história de rever a situação de como a mulher é culpabilizada, responsabilizada, apenas por ser mulher?”, questionou Themis.
Themis deu detalhes da noite do crime
Em entrevista exclusiva ao g1 e ao Fantástico, a mulher que denunciou Prior deu detalhes sobre o que aconteceu na noite do crime e contou sobre a relação que tinha com o arquiteto.
Em nota, os advogados de Prior disseram: “a defesa de Felipe Antoniazzi Prior reitera a inocência de Felipe e que a sentença prolatada pela 7ª Vara Criminal de São Paulo será objeto de recurso de apelação ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ” (confira a íntegra abaixo).
Antes do crime
Themis conheceu Prior ainda na idade escolar, durante um ano letivo em que estudaram no mesmo colégio. Depois, voltaram a conviver quando ela ingressou no curso de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no Centro da capital paulista. Apesar disso, ela afirmou que nunca teve um vínculo de amizade com ele, já que cursavam períodos diferentes.