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Siamesas, de 22 anos, contam como é dividir a vida; uma namora e outra é assexual

Há 22 anos, Lupita e Carmen Andrade, que são gêmeas, chegaram ao mundo. As irmãs mexicanas se mudaram ainda bebês para os Estados Unidos e, atualmente, vivem em Connecticut. Seria uma história comum, não fosse por um detalhe: as duas são conectadas pelo torso e compartilham o mesmo sistema reprodutivo. É o que conhecemos como gêmeas siamesas, condição que acontece quando gêmeos não se separam, como esperado, ainda na gestação. Em alguns casos, são realizadas cirurgias de separação, ainda nos primeiros meses ou anos de vida. Mas elas vivem assim há mais de duas décadas – e são muito felizes, segundo contaram, em entrevista ao site Today Parents.

Cada uma delas tem dois braços, mas apenas uma perna. Carmen controla a perna direita. “Eu dirijo!”, diz ela. Já Lupita, se encarrega de escolher as músicas e olhar o GPS. Enquanto Carmen está na faculdade e estuda para ser enfermeira veterinária, Lupita pretende trabalhar na mesma área, como técnica, além de sonhar em escrever comédia.

Um dos pontos que mais chama a atenção das pessoas sobre a rotina delas é que Carmen namora e Lupita é assexual. “Conheci meu namorado, Daniel, em um aplicativo de namoro, em outubro de 2020”, conta. “Nunca tentei esconder o fato de ser gêmea siamesa, o que significa que recebi muitas mensagens de caras com fetiches. Eu sabia logo de cara que Daniel era diferente dos outros, porque ele não começou com uma pergunta sobre minha condição. Tenho ansiedade social e acabei cancelando encontros de última hora, mas me senti tranquila no caminho”, explica. “Estamos juntos há dois anos e meio e discutimos o noivado, mas queremos morar juntos primeiro. Daniel e minha irmã se dão muito bem. É engraçado porque fico acordada até mais tarde que a Lupita, mas quando o Daniel vai dormir comigo, eu adormeço rápido — e ele fica conversando com ela. Às vezes, me sinto mal porque quero passar muito tempo com Daniel. Então, tentamos chegar a acordos. Tipo, Lupita escolhe onde vamos jantar ou quais atividades vamos fazer. Daniel e eu adoramos crianças, mas não queremos filhos. Eu gosto de ser mãe de cachorro! Lupita e eu não conseguimos engravidar, temos endometriose e também tomamos um bloqueador hormonal que nos impede de menstruar”, afirma Carmen.

As irmãs também juram que não se cansam uma da outra. “Às vezes, no final do dia, estamos exaustas e não queremos conversar. É quando vamos usar dispositivos diferentes e fazer nossas próprias coisas. Eu tenho meu laptop para fazer trabalhos escolares e Lupita coloca fones de ouvido e ouve música”, conta Carmen. “Estivemos juntos a vida inteira, então não é como se sentíssemos falta da nossa independência. É tudo o que já conhecemos, certo?”, compara.

Embora seja difícil, muitas vezes, para quem está de fora compreender, Carmen e Lupita afirmam que são felizes do jeito que são. “Compartilhamos uma corrente sanguínea, compartilhamos um fígado, compartilhamos muitas estruturas internas”, lembra Carmen. “Se fizéssemos uma cirurgia de separação, qualquer uma de nós poderia morrer, nós duas poderíamos morrer ou acabar na UTI, sem nunca mais poder sair”, completa Lupita.

É claro que a rotina, na condição delas, não é só alegria. Ambas enfrentam desafios, mas, ao mesmo tempo, elas tentam aproveitar a vida, indo ao cinema, a shows, viajando… Elas até frequentam a academia!

E as roupas ? “Nossa vizinha costura roupas para nós desde os 5 anos de idade. Ela faz todas as nossas camisas, vestidos e uniformes e outras coisas”, conta Carmen. Segundo elas, a decisão sobre os looks também não costuma gerar brigas. “Temos o mesmo estilo, mas tentamos ter nossos próprios looks distintos. Não costumamos deixar o cabelo do mesmo comprimento. Quando fomos ao oftalmologista, Lupita escolheu óculos completamente diferentes dos meus. Ela tem um piercing na lateral do nariz. Eu tenho um anel de septo”, afirma.

Apesar dos desafios e de, inevitavelmente, terem sofrido bullying ou ouvido alguns comentários maldosos de crianças e adultos, as irmãs consideram que tiveram uma boa infância. “Sempre compartilhamos o mesmo grupo de amigos. Ainda somos próximos das mesmas pessoas com quem crescemos. Lupita tem uma intuição muito boa sobre as pessoas, então se ela gosta delas, eu gosto delas”, conta Carmen.

“Quando tínhamos quase 6 anos, tivemos um pesadelo em que íamos cair de um avião e, literalmente, caímos da cama. Isso só aconteceu uma vez, mas podemos sentir as emoções uma da outra”, revela Carmen. “Isso acontece o tempo todo. Estivemos recentemente em uma loja e senti uma estranha queda no estômago – e sabia que vinha da minha irmã. Um homem estava fingindo filmar sua filha, mas, na verdade, estava nos filmando. Eu não percebi, mas Lupita sim. Ela é bem mais observadora”, pontua. “Posso sentir quando Carmen está ansiosa ou prestes a chorar. É aquela mesma sensação no estômago”, concorda Lupita.

As irmãs têm contas separadas no Instagram, onde compartilham momentos da rotina e curiosidades. A ideia é normalizar a presença de gêmeos siameses no mundo. “Recebemos alguns comentários desagradáveis. Muitas pessoas não estão acostumadas com pessoas com deficiência estabelecendo limites ou criando limites quando se trata de sua deficiência. Recebemos muitas perguntas sobre sexo, como vamos ao banheiro e coisas assim. Mas você deve se lembrar: não somos apenas gêmeas siameses, somos pessoas”, finaliza Carmen.

Portal PN

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