No Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, celebrado neste sábado (8), um grupo de brasileiros embarca, pela primeira vez, para um trabalho na região do Círculo Polar Ártico. O destino do grupo é Longyearbyen, capital de Svalbard, na Noruega, e três professores de Brasília participam da expedição.
Ao todo, cinco pesquisadores embarcam: os professores Marcelo Henrique Soller Ramada, da Universidade Católica de Brasília (UCB), Paulo Eduardo Aguiar Saraiva Câmara e Micheline Carvalho Silva, do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília (UnB); Luiz Henrique Rosa e Vívian Nicolau Gonçalves, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Nunca tivemos abertura para trabalhar no Ártico. Sempre foi dita muito longe, fora do entorno estratégico do Brasil, por desconhecimento e medo por ter logística cara como na Antártica [que precisa de navio, estação, avião]. Só que nada disso é necessário, porque as condições climáticas são menos drásticas que na Antártica. Se a gente opera há 40 anos na Antártica tranquilo, a gente opera no Ártico com muito mais facilidade”, diz o professor Paulo Câmara.
Um dos principais objetivos do grupo é gerar dados sobre a região para novas pesquisas, futuras expedições e comparações entre o polo e a Antártica — continente estudado há mais de 40 anos por pesquisadores brasileiros pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar).
O pesquisador Paulo Câmara explica que essa é uma viagem científica para coletar dados e complementar os estudos já feitos no Proantar, como “espécies bipolares, conexões entre o Ártico e a Antártica”.
“Existem aves que atravessam do Ártico para a Antártica e algumas fazem isso em 15 dias. Existem poros, pólens, que são transportados de um polo para o outro. A gente acha que não acontece, mas acontecem essas conexões”, diz Câmara.
“A gente espera que seja sucesso para coletar dados científicos e que essa primeira expedição abra portas para o que vem depois”, afirma o pesquisador.
Biodiversidade
Pesquisadores da Universidade Católica de Brasília coletando musgos na Antártica — Foto: Arquivo pessoal
O professor Marcelo Ramada, da Universidade Católica de Brasília, explica que apesar do interesse em comum, os pesquisadores têm objetivos diferentes em suas áreas de atuação. Desde 2018, o pesquisador começou os estudos com briófitas — plantas de pequeno porte encontradas principalmente em áreas úmidas —, analisando os musgos presentes na região do cerrado brasileiro.
Depois, foi selecionado no Proantar e passou a integrar as expedições à Antártica e coletar material para estudo. A maior conquista das expedições até o momento, segundo ele, foi conseguir cultivar briófitas da Antártica no Brasil.
“Estamos conseguindo cultivar, sem contaminantes, nos laboratórios da UCB. Consideramos um resultado interessante para que possamos fazer o estudo dos genomas desses organismos, bem como para estudos de aplicações biotecnológicas”, conta o pesquisador.
Presença do Brasil no Ártico
Professores da UnB Paulo Eduardo Aguiar Saraiva Câmara e Micheline Carvalho Silva em expedição na Antártica — Foto: Arquivo pessoal
Outro objetivo da primeira expedição ao Ártico é buscar a colaboração com outros países na pesquisa nacional. Os pesquisadores devem visitar estações científicas e produzir relatórios que possam servir aos próximos visitantes.
Marcelo Ramada explica que o Brasil ainda não tem uma presença consolidada no Ártico, como tem na Antártica. “O Brasil na Antártica é um membro consultivo do Tratado Antártico desde 1983. Ele tem só vinte e nove membros consultivos no mundo atualmente. Isso quer dizer que o país tem direito a veto e voto na Antártica”.
“A pesquisa científica que nós vamos fazer, nossa presença na primeira expedição brasileira no Ártico, vai permitir mostrar ao mundo e ao próprio Brasil também a capacidade do cientista brasileira em fazer ciência de qualidade no Ártico também”, diz Ramada.
A Primeira Expedição Científica do Brasil ao Ártico, ou Operação Ártico l, será financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MC-TI), via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelas Universidades participantes e tem apoio institucional do Ministério das Relações Exteriores e da Secretaria Interministerial dos Recursos do Mar da Marinha do Brasil.