Em meio a uma onda de calor sem precedentes, que atinge, sobretudo, as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, um fenômeno climático chamou a atenção dos moradores do Rio de Janeiro na noite de terça-feira (14/11), quando a sensação térmica na cidade chegou a quase 60°C: chuvas fortes acompanhadas por queda de granizo.
A zona oeste da capital e a Baixada Fluminense foram os locais mais atingidos pelas tempestades, segundo o Centro de Operações do Rio.
Nas redes sociais, usuários demonstraram surpresa, e a hashtag “granizo” chegou a parar nos trending topics no X (antigo Twitter).
Mas como ocorre esse fenômeno climático?
⛈️O granizo são pedras de gelo que se formam em nuvens de grande extensão vertical – as cumulonimbus, citadas pela especialista.
Ao contrário do que muitos pensam, “é normal uma tempestade vir com granizo e ventos fortes depois de um dia muito quente, devido à formação de uma nuvem chamada cumulonimbus”, explica Carine Gama, meteorologista da Climatempo.
Essas nuvens são conhecidas pelos meteorologistas como “nuvens frias”, pois uma porção delas tem temperatura abaixo de zero grau, permitindo, portanto, a formação do granizo.
Por outro lado, as chamadas “nuvens quentes” têm temperatura acima de zero grau em toda a sua extensão, da base ao topo.
Segundo a Climatempo, elas podem até provocar chuva forte, mas não geram raios e nem granizo.
Essas nuvens quentes são muito comuns no litoral do Nordeste e esse é um dos motivos pelos quais precipitações com granizo são menos comuns nessa região.
É dentro das enormes nuvens cumulonimbus, na parte com temperatura abaixo de zero, que as pedras de gelo se formam.
Quando as fortes correntes ascendentes que existem dentro das cumulonimbus não conseguem mais sustentá-las no ar e essas pedras ficam muito pesadas, elas caem das nuvens.
Vale lembrar que, dentro das nuvens, essas pedras de gelo são enormes, mas no caminho entre a base da nuvem e o chão vão derretendo, perdendo massa, podendo ter tamanhos variados quando chegam à superfície.
‘É normal uma tempestade vir com granizo e ventos fortes depois de um dia muito quente’, diz Carine Gama, da Climatempo. — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), um departamento do governo dos EUA, a velocidade de queda do granizo depende principalmente do tamanho, do atrito entre o granizo e o ar circundante, das condições locais do vento (horizontal e vertical) e do grau de derretimento da pedra de gelo.
De acordo com a instituição, para granizo pequeno, a velocidade de queda esperada é entre 15 km/h e 40 km/h.
Para granizos típicos de uma forte tempestade, a velocidade de queda esperada varia entre 40 km/h e 65 km/h.
Já nas supercélulas (também conhecidas como “tempestades gigantes”) — menos comuns, mas mais severas — caracterizadas pela presença de um mesociclone (uma corrente de ar ascendente girando no interior da nuvem), as pedras podem ter tamanhos entre 5 a 10 cm de diâmetro e podem cair a uma velocidade entre 70 km/h e 120 km/h.
“No entanto, há muita incerteza nestas estimativas devido à variabilidade na forma do granizo, no grau de derretimento, na orientação da queda e nas condições ambientais. É possível que granizos muito grandes (com diâmetros superiores a 10 cm) caiam a mais de 160 km/h”, diz a NOAA em seu site.
Tempestades de granizo podem causar grandes danos materiais em centros urbanos e áreas rurais e também podem danificar aviões, segundo a Climatempo.
Foi o que aconteceu, por exemplo, em agosto do ano passado na região espanhola da Catalunha.
Dezenas de pessoas ficaram feridas e um bebê de 20 meses morreu ao ser atingido na cabeça com bolas de gelo gigantes durante uma forte tempestade de granizo na comunidade autônoma espanhola.
Segundo a agência meteorológica Meteocat, as pedras de granizo foram as maiores registradas na Espanha em duas décadas.
Na ocasião, o culpado foi o verão com temperaturas em níveis atípicos, que deixou o Mar Mediterrâneo mais quente do que o costume para aquela época do ano, aumentando a virulência de tempestades.
Meteorologistas também alertam que as mudanças climáticas estão alterando os padrões de tempestades de granizo no mundo, uma vez que o ar mais quente faz com que mais água evapore da superfície terrestre.
Como o granizo se forma quando essa umidade sobe a partes da atmosfera onde o ar é frio a ponto de congelar as gotas d’água, esses fenômenos estão se tornando mais comuns e mais severos.
Segundo a NOAA, as tempestades de granizo causam uma média de US$ 1 bilhão (R$ 4,8 bilhões) em danos a propriedades e colheitas todos os anos nos Estados Unidos.
A maior pedra de granizo recuperada nos EUA caiu em Vivian, no Estado de Dakota do Sul, em 23 de junho de 2010, com diâmetro de 20,3 cm e circunferência de 47,3 cm, pesando cerca de 900 gramas.
G1