É surreal pensar que o público somado dos mais de 200 shows das três últimas turnês de Madonna seja menor do que a plateia que lotou a Praia de Copacabana. Neste sábado (4), a cantora americana se apresentou para 1,6 milhão de pessoas.
A maior popstar em atividade fez o maior show de sua história, com participações de Pabllo Vittar (“Music”) e Anitta (“Vogue”). As duas não cantaram, mas subiram ao palco e contracenaram com a diva.
Madonna transformou o Rio no lugar perfeito para a despedida da turnê que celebra seus 40 anos de carreira. Nada diminuiu a catarse, nem mesmo os 45 minutos de atraso ou os tantos perrengues de um evento deste porte. Mas quem esperava uma enorme pista de dança, teve que se contentar com um excelente musical.
Pioneira em trazer para os mega shows a teatralidade da Broadway, Madonna faz desta “tour” uma peça sobre ela mesma. Em pouco mais de duas horas, cada ato representa um momento marcante de sua vida pessoal e profissional. O show do Rio é quase o mesmo do resto da turnê.
“Vou contar a história da minha vida. Não é um filme, é minha vida de verdade e vocês são uma grande parte disso”, anunciou, ainda no comecinho.
Quem é fã já sabia que a ideia desta turnê era usar as gravações de estúdio para fazer novas versões ao vivo, sem uma banda tocando. O uso de sons gravados funciona, mas a presença de vozes encobrindo a de Madonna prejudica a performance vocal em músicas como “Everybody”.
Madonna beija bailarina — Foto: Reprodução
“Nothing Really Matters” abre o setlist de forma arriscada. A música do disco “Ray of Light” (1998) representa uma fase mais psicodélica e soturna, responsável por dar à cantora seu único Grammy de Melhor Álbum Pop.
“Olhando para minha vida fica claro que eu vivia de forma egoísta”, ela canta, em uma das letras mais pessoais da discografia. A escolha pouco óbvia de abertura tem a ver com a força da letra, uma espécie de editorial ou introdução desta turnê super personalista e auto celebratória.
A apresentação, no entanto, passa longe de ser um show currículo. Há uma razão para cada música estar localizada em cada um dos sete atos. Todos eles têm imagens memoráveis e uma direção de arte digna de alguém como Madonna.
A primeira parte é dedicada ao começo de carreira, quando uma então jovem ambiciosa com US$ 35 no bolso saiu de Detroit, no estado americano de Michigan rumo a Nova York, em 1978. A sequência formada por “Everybody”, “Into the Groove”, “Burning Up” e “Holiday” faz o show engrenar.
“Live to tell” abre o segundo bloco, que dá uma pausa na festa. Ao som da balada, a cantora homenageia amigos e outras pessoas que morreram após o diagnóstico de Aids. Emocionada, Madonna chorou após a música. Nos telões, apareceram fotos de famosos brasileiros como Renato Russo e Cazuza, que também morreram por complicações da doença.
Em 1989, Madonna incluiu no encarte do álbum “Like a Prayer” uma cartilha sobre a Aids, em uma época em que falar sobre a epidemia da doença era considerado um tabu. Não por acaso, a faixa encerra esse segmento.
O terceiro ato relembra a fase mais provocativa. Aquela era dos anos 90 focava em que looks, letras e clipes focavam na busca pela liberdade sexual feminina. O figurino dessa parte é o mais simples e com menos pano e adereços: apenas uma camisola e um roupão.