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Líbia: corpos seguem sendo retirados do mar seis dias após enchente com milhares de mortos

Moradores de Derna, no leste da Líbia, contavam suas perdas de uma enchente que devastou áreas da cidade costeira, enquanto as operações de busca por pessoas desaparecidas continuavam neste sábado, pelo sexto dia, e mais corpos foram retirados do mar.

A rua Central, antes um foco de atividade econômica em Derna e cheia de lojas, estava praticamente deserta. O silêncio era quebrado apenas pelo assobio do vento ao passar por prédios destruídos, enquanto as pessoas se sentavam desconsoladas na rua, bebendo café e avaliando os danos.

“A primeira coisa que temo é que demore muito tempo”, disse o professor de 44 anos Tarek Faheem al-Hasadi, cuja esposa e cinco netos pequenos morreram devido à enchente. Ele e seu filho sobreviveram por ter subido no telhado.

“É preciso persistência, e temo que o apoio que está chegando seja temporário”, afirmou, entre lágrimas, fazendo guarda diante da sua casa destruída e acrescentando que estava determinado a não deixar a região.

Um edifício de três andares, no outro lado, foi varrido 60 metros estrada abaixo pela enchente, disse Hasadi.

Na orla marítima de Derna — onde um carro destruído podia ser visto em cima de quebra-ventos de concreto e madeiras flutuantes se espalhavam em poças lamacentas —, escavadores trabalhavam para abrir caminho para equipes de resgate e helicópteros procuravam corpos no mar.

Distritos inteiros de Derna, uma das maiores cidades do leste da Líbia, foram varridos ou soterrados em lama após duas barragens ao sul da cidade se romperem na noite de domingo, desencadeando uma torrente de água no leito de um rio geralmente seco.

A missão da Organização Internacional de Migração na Líbia informou que mais de 5.000 pessoas são presumidas como mortas. Houve 3.922 óbitos registrados nos hospitais. Cerca de 38.640 pessoas foram deslocadas na região atingida pela enchente.

O verdadeiro número de mortes pode ser muito maior, disseram autoridades.

“A situação é muito, muito trágica”, disse Qais, um tunisiano que participava do resgate na orla e que informou apenas o seu primeiro nome. “Nunca vimos tantos danos causados por água.”

Mais de 450 corpos foram recuperados nos últimos três dias à beira-mar, inclusive dez que estavam sob escombros, disse Kamal Al-Siwi, autoridade no comando da operação que busca pessoas desaparecidas.

“O trabalho está em andamento e é muito, muito, muito complicado”, disse à Reuters.

Mais de mil pessoas foram enterradas em valas comuns, segundo a ONU, o que atraiu alertas de grupos de auxílio humanitário sobre o risco de contaminação da água e o sofrimento mental das famílias.

 

R7

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