Guarde essa data. 7 de setembro. O filme “Angela”, dirigido por Hugo Prata focado na vida da socialite mineira Angela Diniz, chega aos cinemas no dia 7 de setembro. Uma história que precisava ser mostrada no cinema, um crime, um feminicídio histórico, uma tragédia brasileira de homens que continuam matando suas mulheres – uma história sem fim.
Com roteiro de Duda de Almeida, o longa traz os últimos meses de vida de Ângela Diniz, uma das mulheres mais bonitas de Minas Gerais, interpretada por Isis Valverde, cujas belezas se espelham na tela. Além das consequências de uma conturbada relação amorosa com o empresário Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street – interpretado por Gabriel Braga Nunes).
Uma atração fatal, levou o casal a largar tudo, a cidade e viveram juntos casa de praia em Búzios, mas o Doca Street cedo começou a mostrar sua natureza, de um homem agressivo, violento e controlador, como acontece sempre em nosso país.
A relação perigosa desaba para o abuso e a violência, culminando em um dos casos de assassinato mais famosos de todos os tempos no Brasil. No elenco, estão ainda Alice Carvalho, Bianca Bin, Carolina Mânica, Chris Couto, Emílio Orciollo Netto e Gustavo Machado. A produção é da Bravura Cinematográfica e a coprodução é da Star Productions. A e a distribuição é da Downtown Filmes.
Hugo Prata fez e faz. É dele o filme “Elis” (2015), que destaca os pontos mais importantes da carreira da artista, que morreu há 42 anos. HP consegue pontuar os traços importantes da vida de Elis, a maior voz do Brasil, em carreira marcada por altos e baixos.
Em conversa com diretor Hugo Prata e traz alguns detalhes do seu segundo filme, que vai levar muita gente aos cinemas do Brasil e lá fora
Pelo trailer, pela beleza e tristeza das imagens, pela atualidade do filme, já podemos esperar um bom longa brasileiro, né?
Hugo Prata – Sim, uma história brasileira que merece ser contada. Sempre vou filmar histórias brasileiras.
– Como veio a ideia de trazer a história de Angela Diniz para as telas 47 anos depois?
Hugo Prata – Veio da necessidade de contar essa história de um ponto de vista diferente do que foi apresentado no julgamento do assassino.
– Vamos pensar que o caso de Angela Diniz está entre os mais famosos feminicídios do Brasil, que hoje e sempre, os homens matam as mulheres por ciúmes, por não aceitar separação. Seu filme vem ilustrar as barbáries?
Hugo Prata – Sim, exatamente.
– Isis Valverde foi a escolha perfeita. Como veio essa sacada, para a protagonista?
Hugo Prata – Isis sempre foi minha Angela, desde o início. Me emociona a coragem dela de mergulhar na personagem, nas suas angústias. Uma atriz completa.
– O senhor Raul Fernando, o Doca Street, morreu aos 86 anos, em São Paulo, no ano de 2020. Ele morre também no filme – mesmo que simbolicamente?
Hugo Prata – Ele morreu há 2 anos atrás. Isso não faz parte do filme.
– O ator Gabriel Braga no papel de Doca Street, foi outra assertiva?
Hugo Prata – Sim, o Gabriel tem a capacidade de entrar como galã e sair como vilão. Admiro muito o trabalho dele.
– Ainda sobre o Doca Street, no primeiro julgamento, o assassino usou os velhos argumentos de “defesa da honra” e “crime passional”, recebeu uma pena leve e acabou sendo liberado da prisão, mas os protestos ao redor do país, um segundo tribunal aumentou sua pena para 15 anos de cadeia. Quase nada, né? Ou seja, morreu de velho, tendo matado uma mulher tão bela e jovem?
Hugo Prata – Ele cumpriu a pena dele com a justiça. Deve ter carregado um fardo até o final da vida.
– Quanto tempo durou as filmagens, as locações foram feitas aonde? Qual trilha sonora?
Hugo Prata – Filmamos durante 4 semanas na Bahia e em São Paulo. A trilha sonora é original, composta pelo maestro Otávio de Moraes, que já tinha feito “Elis” comigo.
– Você consultou os familiares de Angela Diniz, houve alguma resistência?
Hugo Prata – A família nos autorizou contar a história e não se envolveu na produção. Fizemos com liberdade total.
– Eu vi um podcast “Praia dos Ossos”, cujo tema o assassinato de Ângela Diniz. Isso motivou mais a realização do filme?
Hugo Prata – O filme é um projeto anterior ao Podcast, começamos em 2016.
– Você que dirigiu Elis, um filmão, o que achou de uma propaganda com Elis em ritmo de inteligência artificial que foi muito criticada nas redes sociais?
Hugo Prata – Achei legal.
– Tem projetos novos?
Hugo Prata – Preciso descansar um pouco antes de lançar uma nova ideia.
Duas perguntas para Isis Valverde
– Como foi receber o convite para fazer “Angela”?
Isis Valverde – Conversamos sobre o projeto há um tempo. Quando recebi o convite, ainda estava no ar em “Amor de Mãe”. Fiquei muito feliz por ter sido convidada para contar essa história no cinema. A história da Ângela Diniz deve ser contada e lembrada sempre para que possamos mudar as coisas. Como atriz, acredito muito no papel social que meu trabalho desempenha. Falar sobre feminicídio é muito importante, especialmente em um país onde as taxas deste crime são alarmantes. Para mim, é muito importante ajudar a falar sobre isso e torço para que com a história que estamos contando possamos ajudar mulheres que vivem situações de abuso como a dela a conseguirem ter força para conseguirem buscar ajuda. Provocar mudanças também é meu papel como atriz.
– Você acredita que o audiovisual tem o potencial de gerar debates públicos sobre como é o feminismo e o feminicídio? Teve essa consciência ao aceitar o papel? O que te moveu para viver Ângela Diniz?
Isis Valverde – Completamente. O papel da arte é também fazer refletir e ajudar nas transformações sociais que precisamos testemunhar. Meu desejo é que o filme seja um vetor de mudança, que ele propicie debates sobre a violência contra a mulher, e que essa triste realidade mude. Que nós, mulheres, possamos fazer nossas escolhas, possamos viver como desejamos e que nada nos seja negado pelo fato de sermos mulheres.
O caso Ângela Diniz
Nascida em Curvelo, Ângela Maria Fernandes Diniz foi uma socialite brasileira assassinada aos 32 anos de idade em sua casa de praia, localizada em Búzios, no estado do Rio de Janeiro. O crime foi cometido pelo seu então companheiro Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como “Doca Street”, em dezembro de 1976. Ângela foi casada por 10 anos com Milton Villas Boas, com quem teve três filhos. Para se separar, Milton impôs a ela a condição de ceder da guarda das crianças para assinar o desquite.
Após conhecer Raul e viver uma paixão avassaladora, os dois largaram tudo e foram viver este amor longe dos holofotes das capitais. Escolheram Búzios, no estado do Rio de Janeiro, como um refúgio e local para refazerem as suas vidas. O que parecia ser uma relação repleta de amor e planos, rapidamente se tornou uma história de opressão e violência. Com apenas quatro meses de relacionamento, Ângela foi assassinada no dia 30 de dezembro de 1976 após afirmar que gostaria de se separar de Raul.
Na justiça, Raul argumentou que matou por “legítima defesa de honra” e foi condenado a uma pena simbólica de dois anos. Com gritos de “Quem Ama Não Mata”, a morte de Ângela gerou revolta em muitas mulheres no país e revolucionou o movimento feminista do Brasil. Em 1981, um promotor recorreu e Raul foi condenado por homicídio a 15 anos de prisão em regime fechado.
Veja o trailer aqui
https://youtu.be/0X5X-jiRPbE?feature=shared
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