O 4º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal é um quartel como outro qualquer. Desde o 14 de janeiro, no entanto, as atenções de boa parte da classe política estão voltadas para o que acontece no interior daquelas instalações — ou, principalmente, para o que pode vir a acontecer. É lá que está detido o delegado Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo passado, investigado por supostamente atuar num plano golpista que resultou nos ataques de 8 de janeiro aos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos últimos dias circularam rumores de que o ex-ministro estaria negociando um acordo de delação premiada com a Justiça. Em troca de benefícios legais, revelaria detalhes de um plano do então presidente Jair Bolsonaro para desacreditar as eleições e se manter no poder. Ele nega, seus advogados também, mas o fato é que pessoas próximas ressaltam que o delegado está emocionalmente fragilizado, doente e reclama de abandono.
A sala improvisada como cela onde o ex-ministro está preso há quase três meses é equipada com um beliche, mesa, televisão, frigobar e banheiro. É nela que ele também recebe as raras visitas — alguns poucos familiares e os advogados. O delegado tem três filhas. A mais velha, de 13 anos, ele vê nos fins de semana. As outras duas, de 9 e 11 anos, nunca foram ao quartel, pararam de frequentar as aulas e estão passando por tratamento psicológico. Recentemente, ele foi informado por uma irmã que a mãe havia voltado a fazer quimioterapia contra um câncer que ressurgiu após sua prisão. Desse dia em diante, Anderson entrou em um estado de tristeza profunda, chora constantemente, mal se alimenta e já perdeu 12 quilos. “Ele está tomando remédios para o último nível de depressão”, diz o ex-deputado Fernando Francischini, um dos poucos amigos que continuam mantendo contato com o delegado.
O estado de saúde de Torres está na origem das especulações sobre o acordo de colaboração. O boato ganhou força depois que os advogados do ex-ministro — radicalmente contrários ao instituto da delação premiada — deixaram o caso, sem uma razão aparente. A defesa foi assumida por Eumar Novacki, um ex-militar que também foi chefe da Casa Civil do governador Ibaneis Rocha. “O ex-ministro não tem nada para revelar”, disse Novacki a VEJA. Segundo ele, a defesa vai continuar insistindo na linha de que invasões de prédios públicos, seguidas de vandalismo, ocorrem há décadas em Brasília e isso deriva da imprevisibilidade dessas manifestações e não da omissão das autoridades responsáveis. “O Supremo agiu certo ao dar um basta na escalada de violência, mas vamos provar que o Anderson não tem nenhuma ligação com as manifestações de 8 de janeiro”, diz.
O advogado sustenta que nos milhares de páginas do inquérito que tramita no STF não consta um único depoimento ou prova de que o ex-ministro tenha incentivado ou praticado qualquer ato golpista. Sobre a minuta de uma bizarra proposta de intervenção no TSE apreendida na casa do delegado, Novacki diz que o próprio Anderson já explicou que era documento apócrifo e seria descartado. “O Anderson hoje é um preso político, pois até traficante o Supremo solta quando fica muito tempo detido”, diz Francischini, um ex-delegado da PF que, quando exerceu o mandato de deputado, teve o ex-ministro como chefe de gabinete. A defesa considera que a prisão dos mais de 1 400 manifestantes que participaram dos ataques aos prédios públicos teve um efeito pedagógico, mas que, no caso de Anderson, ela é exagerada. “Meu cliente não oferece risco de fuga, não ameaçou testemunhas e não representa perigo para a sociedade”, pondera o advogado.
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