Elena Guerra: veja quem será a mais nova santa italiana e entenda a relação dela com o Brasil
A Igreja Católica ganha no próximo domingo (20) mais uma santa. Elena Guerra será canonizada às 5h30 (horário do Brasil) em uma cerimônia no Vaticano. Mas, quem é a beata conhecida como ‘Apóstola do Espírito Santo’ e qual a relação dela com o Brasil?
Elena Guerra nasceu e viveu na Itália entre 1835 e faleceu em 1914. Foi professora, fundadora da Congregação Oblatas do Espírito Santo e era conhecida também por ser uma pessoa muito caridosa. (Leia sobre a vida dela mais abaixo)
No Brasil, a beata é conhecida e dá nome à escolas de formação religiosa e também de ensino infantil. Mas foi em um grupo de orações de Minas Gerais que a fé em Elena Guerra levou à cura de um homem que estava desenganado pela medicina. E foi esse episódio no Brasil, considerado um milagre pelo Vaticano, o responsável por torná-la santa. (Entenda o caso lendo esta reportagem).
Quem foi Elena Guerra
Casa em que Elena Guerra viveu — Foto: Henrique Mendes/Diocese de Uberlândia
De acordo com publicações especializadas na doutrina católica, Elena Guerra nasceu no dia 23 de junho de 1835, na cidade de Lucca à beira do rio Serchio, na região da Toscana. Aos 19 anos estudou enfermagem e trabalhou cuidando de doentes afetados pela pandemia de cólera na Europa.
Após se dedicar aos cuidados do próximo, Elena ficou por 8 anos em cima de uma cama devido a uma doença desconhecida. Foi nessa época que se dedicou à meditação da Bíblia e ao estudo dos padres da igreja.
Em 1865, curada, a jovem assistiu a uma sessão do Concílio Vaticano I, onde foram discutidas as questões doutrinárias necessárias para espalhar a fé. Elena sentiu ainda mais a necessidade de criar uma comunidade religiosa. Ela então idealizou a primeira Associação de Amigas Espirituais, que reunia jovens de Lucca e outras cidades.
Ao longo do tempo, o grupo cresceu e se tornou a Congregação das Irmãs de Santa Zita, de quem Elena Guerra era muito devota. Em 1897, ela foi recebida pelo Papa Leão XIII, que a encorajou a continuar com seu apostolado e sugeriu a mudança do nome de sua congregação para Oblatas do Espírito Santo.
Elena morreu em 11 de abril de 1914, em um sábado na véspera da Páscoa, deixando um legado de cuidado e amor pelo próximo, sendo reconhecida em 1959 como beata pelo Papa João XXIII.
Quarto em que dormia Elena Guerra — Foto: Henrique Mendes/Diocese de Uberlândia
Canonização
Paulo Gontijo — Foto: Reprodução / TV Integração
A história que culminou na publicação de um decreto pelo Papa Francisco no dia 13 de abril de 2024, reconhecendo o milagre atribuído à beata Elena Guerra e abrindo caminho para ela se tornar santa, aconteceu em 2010, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
Na época, o enfermeiro que hoje é aposentado, Paulo Gontijo, tinha 49 anos e sofreu um grave traumatismo craniano e teve suspeita de morte encefálica depois de bater a cabeça ao cair de uma árvore de 6 metros de altura enquanto fazia uma poda.
Após 25 dias em coma no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), os médicos deram poucas chances de que Paulo iria sobreviver aos danos causados pela queda e, caso se salvasse, teria sequelas graves.
A família lembra que a situação de Paulo era tão grave que o caso dele passou a ser tratado dentro de um protocolo de morte encefálica. Assim, pediram ao pároco da igreja que frequentavam, William Eurípedes Garcia, para que Paulo recebesse a extrema unção – sacramento católico que consiste na unção do enfermo acompanhada de uma oração – na Unidade de Terapia Intensiva.
“Eu levei o sangue de Cristo, que é o vinho consagrado, com a intenção de pingar algumas gotas na língua dele, para que ele pudesse ter ali a presença de Cristo vivo e ressuscitado junto dele. Eu coloquei essas três gotas na língua do Paulo, onde ele abruptamente reagiu de maneira brusca ao tocar o sangue na língua, uma pessoa que já estava com o quadro de morte, ter esses movimentos bruscos foi surpreendente. Eu fui pego de surpresa com esse milagre que foi imediato”, lembrou o padre.
Assim, após o milagre da Beata Elena em Uberlândia foi iniciada uma investigação para comprovar a sua santidade. Para o processo, é preciso solicitar a abertura da causa, nomear um responsável para acompanhar o processo, investigar a fama de santidade do candidato, comprovar um milagre realizado após a morte do candidato a santo, beatificar o candidato, comprovar um segundo milagre, desta vez realizado após a beatificação, para enfim proclamar o candidato santo, que é a canonização propriamente dita.
Paulo visitou o túmulo de Ela Guerra junto da esposa — Foto: Henrique Mendes/Diocese de Uberlândia
Após a investigação e reunião dos documentos, em 2013, a Diocese de Uberlândia encerrou o processo e encaminhou para Roma. Neste dia que encerrou as investigações no Brasil, os documentos foram lacrados e enviados para a Santa Sé, para a Congregação da Causa dos Santos.
Na sessão solene de clausura – que é uma fase do inquérito de canonização – foram apresentadas duas cópias autenticadas do processo referente ao suposto milagre.
Durante a fase de investigação do milagre, um representante da Igreja Católica foi enviado à Uberlândia para recolher documentos e pedir que novos exames fossem feitos em Paulo.
Vários encontros foram realizados na Itália ao longo desses anos com representantes da igreja, e após mais de 10 anos, o Papa Francisco promulgou o decreto que reconheceu o milagre da beata no Brasil.
O milagre em Uberlândia foi o primeiro após a beatificação de Elena e se tornou prova viva de sua santidade, segundo a Igreja Católica.
Oração à beata Elena Guerra
“Ó Deus, que destes à Beata Helena Guerra a graça de compreender a importância e a força do vosso Espírito Santo, dai também a nós a graça de experimentá-lo em nossas vidas, para que, como a Beata Helena, possamos dedicar nossas vidas ao amor verdadeiro por todos aqueles que mais necessitam. Amém. Beata Helena Guerra, rogai por nós.”
Tumulo de Elena Guerra, em Lucca, na Itália — Foto: Divulgação
G1