Nesse exato momento, já está sendo observada uma mudança no oceano, no entanto ainda não há nenhum dos dois na configuração clássica porque isso exige um período de consistência para consolidar a formação do fenômeno.
Daqui a quatro ou cinco semanas essa alteração oceânica começará a gerar consequências na atmosfera, o que posteriormente demarcará o surgimento do EN.
“Quando falamos da configuração básica, o patamar mínimo é 0,5°C grau de resfriamento ou aquecimento, e para isso demanda muita energia porque é o maior oceano do planeta”, explica a meteorologista sobre o porquê demora para poder confirmar a atuação do fenômeno.
4- Tem relação com o aquecimento global?
Não. Bruno explica que essa variabilidade climática é diferente de mudança climática (que é definitiva, quando o regime climático como um todo se altera e cria um novo padrão).
“Elas são perturbações, como ondas, causando uma alteração temporária no regime climático, na ordem de algo entre 1 a 2 anos”, diz.
No entanto, as mudanças climáticas devem afetar inclusive esses mecanismos de variabilidade porque a propria circulação dos oceanos deve mudar e afetar como o clima vai repercutir ao redor do globo.
“Um ano de Super El Niño pode reforçar o aquecimento global. É um bate volta, se retroalimentam”, explica Estael.
5- Quais os impactos no clima do Brasil?
- causa secas no Norte e Nordeste do país (chuvas abaixo da média), principalmente nas regiões mais equatoriais;
- provoca chuvas excessivas no Sul do país e no sudeste do país.
- as temperaturas ficam mais baixas no Sudeste, principalmente nos meses de verão;
- no Sul são esperadas secas;
- nas regiões mais equatoriais do Norte e Nordeste são esperadas chuvas acima da média.
6- Quais os impactos em outros lugares do mundo?
A tendência é que sejam produzidos efeitos durante o verão. Na Oceania e Indonésia, quando ocorre EN, o tempo fica mais seco. Quando ocorre LN, o clima se torna mais chuvoso.
Em partes do leste da África, fica mais seco e quente. Na costa leste da África, na região mais equatorial, a tendência q o EN deixe mais chuvoso e mais ao sul do continente mais seco e quente. Já nos EUA, o principal efeito é nas temperaturas, o inverno fica mais quente, menos rigoroso.
Entre os anos de 2015 e 2016 aconteceu o que é chamado de Super El Niño e, atualmente, a configuração observada indica que em 2023 é possível que ele ocorra novamente em grande intensidade.
A escala do fenômeno é medida de acordo com os seguintes parâmetros:
- até 0,9°C de mudança na temperatura é considerado fraco,
- a partir de 1,4°C é médio;
- de 1,5°C até 2°C é forte;
- um aquecimento ou resfriamento de 2,5°C ou mais é classificado como super.
Durante praticamente três anos de LN, os impactos foram sentidos principalmente no centro e Norte do Brasil entre dezembro e fevereiro. Agora, é esperado que o EN se instale oficialmente em junho, antes do previsto. Em geral, ele começa a ocorrer em setembro.
“Esse outono mais quente já pode ser um efeito dele”, diz Bruno. E, se confirmado esse cenário, grandes volumes de chuva são esperados.
Ainda segundo o meteorologista, conhecer como esses mecanismos afetam o clima é essencial, uma vez que eles atuam a longo prazo e provocam mudanças que, embora sejam temporárias, persistem e alteram padrões de chuva e de temperatura em muitas áreas do Brasil.
Lidar bem com isso requer o planejamento de recursos hídricos e diversas atividades. É importante o conhecimento disso e o acompanhamento para melhor gerenciamento de risco e de atividades no geral
— Bruno Bainy, meteorologista
G1