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Dólar cai abaixo dos R$ 5,50 após presidente do BC dos EUA dizer que ‘chegou a hora’ de cortar juros; Ibovespa sobe

O dólar opera em baixa e o Ibovespa volta a subir nesta sexta-feira (23), enquanto investidores acompanham e repercutem o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no Simpósio de Jackson Hole.

O dirigente, nome mais aguardado da conferência, disse que “chegou a hora de ajustar a política (monetária)”, o que os investidores interpretam como um sinal claro de que o Fed vai iniciar um corte em suas taxas de juros no próximos mês.

“Faremos tudo o que pudermos para apoiar um mercado de trabalho forte, ao passo em que progredimos mais em direção à estabilidade de preços”, disse Powell, que também garantiu que a instituição “não busca e nem vai apoiar uma desaceleração nas condições do mercado de trabalho”.

Os juros americanos, hoje entre 5,25% e 5,50% ao ano, são o tema da vez nos mercados globais, uma vez que o mercado de trabalho da maior economia do mundo começou a mostrar um desaquecimento e especialistas temem que isso possa levar a uma recessão.

Mas, segundo Powell, o atual nível das taxas de juros dão “amplo espaço” para que o Fed responda aos riscos, inclusive os números baixos de emprego.

Essa afirmação joga ainda mais luz a uma dúvida que tomou os mercados nas últimas semanas: qual será a magnitude do corte promovido pelo Fed em sua próxima reunião, uma vez que a expectativa geral, agora confirmada por Powell, é de que, em setembro, a instituição vai iniciar seu ciclo de afrouxamento monetário (o processo de cortar as taxas).

Agentes do mercado financeiro se dividem entre aqueles que esperam um corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião e os que acreditam numa baixa de 0,50. Mas as estimativas são de que o Fed deve promover mais de um corte em 2024.

Sobre isso, Powell disse que “o momento e o ritmo dos cortes das taxas dependerão dos dados, das perspectivas e do equilíbrio de riscos”. 

Dólar

 

Às 11h30, o dólar caía 1,73%, cotado a R$ 5,4925. Veja mais cotações.

No dia anterior, a moeda americana teve alta de 1,98%, cotada em R$ 5,5894.

Com o resultado, acumulou:

  • alta de 2,22% na semana;
  • recuo de 1,14% no mês;
  • alta de 15,19% no ano.

Ibovespa

 

No mesmo horário, o Ibovespa subia 0,85%, aos 136.319 pontos.

Na véspera, o índice fechou em queda de 0,95%, aos 135.173 pontos.

Com o resultado, o índice acumulou:

  • alta de 0,91% na semana;
  • avanço de 5,89% no mês;
  • ganhos de 0,74% no ano.

O que está mexendo com os mercados?

 

O mercado repercute o discurso de Powell com atenção, com as novas pistas sobre as taxas de juros nos Estados Unidos nos próximos meses. A expectativa é de queda já na reunião de setembro do Fed, mas ainda há dúvidas sobre qual será a magnitude do corte e por quanto tempo as quedas vão acontecer, mesmo com o dirigente afirmando que há “amplo espaço” para os cortes.

O Simpósio de Jackson Hole, onde Powell discursou, é uma conferência promovida pela unidade de Kansas City do Fed e se tonou o evento de economia mais importante do mundo para os participantes do mercado financeiro.

Participam, sempre, os dirigentes do Fed e os banqueiros centrais dos maiores países do mundo. Dirigentes do Japão e do Banco Central Europeu, além de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil (BC), estão lá nesta edição.

A fama e tradição do Simpósio de Jackson Hole veio porque o evento se tornou o palco de antecipações de novidades ou tendências pelos banqueiros centrais do mundo.

Em algumas edições, presidentes de BCs esperaram pela conferência para anunciar novas medidas para a economia de seus países, ou ao menos sinalizar quais serão seus próximos passos na condução da política monetária (que determina a taxa de juros).

O mercado também repercute uma entrevista de outro dirigente, o Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta. À CNBC, ele disse que o Fed não pode esperar que a inflação chegue a 2% para começar a se mover e destacou que a instituição está perto de cortar os juros.

“Estamos próximos… os números estão começando a se mover em uma direção que sugere que nossa política teve seu efeito e podemos iniciar o caminho de volta a uma postura normal”, afirmou Bostic. 

“Os dados chegaram de uma forma que sugere que será apropriado estar mais perto de mudar (os juros) do que mais longe e, para mim, só quero ter certeza de que os próximos dados sejam consistentes com isso.”

No fim de julho, o Fed decidiu manter as taxas entre 5,25% e 5,50% ao ano. Mas a ata, divulgada nesta quarta-feira, mostra que “a grande maioria” dos agentes “destacou que, se os dados continuassem a vir de acordo com o esperado, provavelmente seria apropriado flexibilizar a política monetária na próxima reunião”.

E isso aumentou ainda mais o otimismo do mercado com os ativos de risco, como o mercado de ações e mercados de países emergentes, que tendem a se beneficiar de momentos de juros baixos nos Estados Unidos.

 atas do Fed, em que o grupo de tomadores de decisão são descritos entre “todos”, “a grande maioria”, “vários” etc. Veja abaixo alguns destaques da ata da reunião do Fed de julho:

  • “a grande maioria” dos agentes “destacou que, se os dados continuassem a vir de acordo com o esperado, provavelmente seria apropriado flexibilizar a política monetária na próxima reunião”;
  • “muitas” das autoridades consideram a postura dos juros restritiva e “alguns participantes” argumentaram que, em meio a um arrefecimento das pressões inflacionárias, não mudar a taxa básica poderia pesar sobre a atividade econômica;
  • embora todas as autoridades estivessem de acordo com a manutenção dos juros, “vários” disseram que a redução da inflação em meio a um aumento no desemprego “forneceu um argumento plausível para a redução da meta de 25 pontos-base nesta reunião”;
  • as autoridades veem o mercado de trabalho como tendo retornado (em grande parte) ao ponto em que estava antes do início da pandemia de Covid-19: “forte, mas não superaquecido”;
  • um grupo cada vez menor de agentes teme que um afrouxamento prematuro da política monetária possa provocar a retomada da inflação.

 

Uma queda nos juros dos EUA reduz os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (as Treasuries) e força os investidores a tomarem mais risco para terem rentabilidades melhores. Isso beneficia o mercado de ações como um todo e pode desvalorizar o dólar perante outras moedas, já que, neste movimento, dinheiro é retirado do mercado de títulos públicos americano e pode migrar para outros países.

O Fed se esforça para manter a inflação comportada (até julho, a inflação acumulou alta de 3,2%, e a meta do Fed é de 2%), mas também quer evitar que a economia sofra uma paralisação brusca, principalmente depois de dados do mercado de trabalho do país terem vindo mais fracos que o esperado no último mês.

Os juros no Brasil também ficam no radar dos investidores, em meio às dúvidas sobre a possibilidade de novos aumentos da taxa Selic pelo BC para controlar a inflação que voltou a acelerar. O diretor de política monetária e principal cotado para a presidência do BC, Gabriel Galípolo, falou nesta quinta-feira em evento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em São Paulo.

Em um discurso duro, Galípolo afirmou que suas falas recentes não colocaram o BC em um “corner” em relação ao que será feito com a Selic em setembro, mas repetiu que a autarquia subirá a taxa básica se necessário.

Nos últimos dias têm ganhado força entre instituições financeiras a avaliação de que, em função de falas recentes de Galípolo, consideradas “hawkish” (duras com a inflação), o BC terá que subir a Selic em pelo menos 25 pontos-base em setembro mesmo em meio à relativa melhora do cenário externo.

“Inflação fora da meta é situação desconfortável, e ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC”, afirmou. Os comentários de Galípolo reforçaram a percepção de que uma alta da Selic está de fato a caminho.

G1

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