Cirurgia bariátrica traz benefícios para pessoas com diabetes, diz estudo
A cirurgia bariátrica, também chamada de cirurgia de redução do estômago, leva a um melhor controle do açúcar no sangue e a um menor uso de medicamentos a longo prazo em pessoas com diabetes tipo 2, em comparação com o tratamento não cirúrgico feito com medicamentos como insulina e metformina, descobriu um novo estudo.
O estudo, publicado terça-feira (27) na revista JAMA, comparou os níveis de açúcar no sangue e o uso de medicamentos de 262 pessoas que foram designadas aleatoriamente para se submeterem a uma cirurgia bariátrica ou a um tratamento médico não cirúrgico, como medicamentos e mudanças de estilo de vida, para diabetes tipo 2 após sete a 12 anos.
Os participantes que passaram pela cirurgia bariátrica tinham níveis de açúcar no sangue significativamente mais baixos e tomavam menos medicamentos para diabetes do que aqueles que não foram submetidos à cirurgia, segundo pesquisadores da Universidade de Pittsburgh e de outras instituições. Eles também tinham maior probabilidade de alcançar a remissão do diabetes, que é definida como níveis de açúcar no sangue de pessoas sem a doença por pelo menos três meses sem medicação.
A pesquisa “fornece a evidência mais robusta até o momento da eficácia a longo prazo da cirurgia bariátrica para melhorar o controle do diabetes tipo 2”, disse Thomas A. Wadden, professor de psicologia e ex-diretor do Centro de Peso e Distúrbios Alimentares da Escola Perelman de Medicina da Universidade da Pensilvânia, em um editorial publicado junto com a pesquisa.
A cirurgia bariátrica é um procedimento no qual o trato digestivo é ajustado – normalmente, o tamanho do estômago é reduzido – para ajudar uma pessoa a perder peso, de acordo com o Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais dos Estados Unidos.
A redução na ingestão de alimentos e nas alterações neuro-hormonais, decorrentes da cirurgia, também reduzem o açúcar no sangue e, assim, tratam o diabetes tipo 2, escreveu Marilyn Tan, chefe da Clínica de Endocrinologia da Stanford Health Care, que não esteve envolvida na pesquisa, em um e-mail à CNN.
“Embora seja uma opção mais invasiva do que os medicamentos tradicionais para diabetes e represente um grande compromisso, é também um investimento na saúde a longo prazo”, disse Tan.
A maioria dos prestadores de cuidados de saúde não recomenda, atualmente, a cirurgia bariátrica para diabetes tipo 2, a menos que uma pessoa tenha um índice de massa corporal (IMC) de 35 ou superior. Menos de 1% dessas pessoas acabam buscando tratamento cirúrgico, de acordo com o estudo.
No entanto, Wadden disse em e-mail à CNN que as novas descobertas apoiam a expansão do uso da cirurgia bariátrica para aqueles com IMC inferior a 35 que têm dificuldade em controlar o açúcar no sangue apenas com tratamento médico.
“Espero que esses resultados encorajem mais seguradoras e pagadores a cobrir cirurgia bariátrica para pacientes com diabetes tipo 2 e IMC de 30 a 34,9”, disse ele. “É uma terapia altamente eficaz e de longo prazo para esses indivíduos.”
O tratamento médico não cirúrgico para diabetes tipo 2 envolve mudanças no estilo de vida, como redução da ingestão de carboidratos e aumento do exercício físico, além do uso de medicamentos como metformina e, ocasionalmente, insulina, disse Tan. O objetivo é reduzir a hemoglobina A1c, medida dos níveis médios de açúcar no sangue ao longo de três meses, para menos de 7%.
“Tive vários pacientes que, apesar de centenas de unidades de insulina por dia e de seus melhores esforços, não conseguiram obter A1cs abaixo de 10%”, disse Tan. “Então, após a cirurgia bariátrica, eles podem manter os níveis de A1c abaixo da faixa do diabetes sem quaisquer medicamentos. Eles também observam que, com a perda de peso, podem ficar mais ativos.”
Mais pesquisas são necessárias para comparar os resultados clínicos e a relação custo-benefício da cirurgia bariátrica e da nova geração de medicamentos antidiabéticos, como Ozempic e Mounjaro, diz o editorial.
A perda de peso que as pessoas têm após a cirurgia é fundamental para melhorar os resultados do diabetes, bem como a saúde do coração, disse Tan. O emagrecimento melhora a resposta do corpo à insulina, reduz a inflamação e ajuda a reduzir a pressão arterial e o colesterol. Também pode melhorar a artrite para que as pessoas possam se exercitar mais, acrescentou ela.
As descobertas deste estudo também apoiam os benefícios da cirurgia bariátrica para a saúde cardíaca. As pessoas que realizaram a cirurgia tinham HDL, ou colesterol “bom”, significativamente mais alto e triglicerídeos mais baixos, um tipo de gordura que pode aumentar o risco de doenças cardíacas e derrames.
Apesar dos benefícios, as pessoas muitas vezes hesitam em fazer uma cirurgia para perda de peso porque é invasiva e apresenta alguns riscos, disse Tan.
O estudo descobriu que anemia (falta de glóbulos vermelhos saudáveis), fraturas ósseas e complicações gastrointestinais, como dor abdominal, náuseas e vômitos, eram mais comuns em pessoas que passaram por cirurgia para perda de peso.
Essas complicações conhecidas resultam de deficiências nutricionais que podem ocorrer quando o trato digestivo é alterado cirurgicamente. As pessoas que passam por cirurgia devem mudar sua dieta e tomar vitaminas regularmente para evitar esses problemas, disse Tan.
As pessoas que fazem a cirurgia também podem recuperar o peso perdido, acrescentou Tan.
“Apesar da cirurgia, o ganho de peso é possível se os pacientes voltarem aos hábitos alimentares e quantidades anteriores”, disse ela.
O estudo descobriu que 51% dos participantes tratados cirurgicamente alcançaram a remissão completa do diabetes tipo 2 um ano depois, mas apenas 18% mantiveram a remissão após sete anos. Essa redução na remissão após a cirurgia, observada em pesquisas anteriores, provavelmente se deve a uma combinação de recuperação de peso e perda de células produtoras de insulina ao longo do tempo, segundo o editorial.
Mesmo a remissão a curto prazo da diabetes traz benefícios em termos de redução de complicações relacionadas com o diabetes, tais como doenças oculares, renais e dos vasos sanguíneos periféricos, afirma o editorial.
Embora a cirurgia bariátrica tenha um custo inicial mais elevado do que o tratamento médico, é considerada mais rentável cerca de cinco anos após a cirurgia, de acordo com o editorial.