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Choro, ‘looks’ de R$ 10 mil e pressão: como funciona a Rush Week, disputa de universitárias para irmandades nos EUA

Uma jovem americana, aluna de uma universidade privada no Texas (EUA), mostra no TikTok seu “lookinho” para uma semana decisiva da vida universitária. Ela ostenta uma bolsa de US$ 1,9 mil (mais de R$ 10 mil), da Yves Saint-Laurent, e uma pulseira de US$ 5 mil (R$ 27,2 mil), da Van Cleef, para conquistar a “vida grega” com a qual tanto sonha: pertencer a uma irmandade como Delta Delta Delta, Alpha Phi ou Kappa Kappa Gamma.

  • O que define essas irmandades? São aqueles “clubes” exclusivos que você talvez tenha visto em “Legalmente Loira” (Elle Woods era presidente da fictícia Delta Nu) ou em “A Casa das Coelhinhas” (Shelley pertencia à Zeta Alpha Zeta). Em resumo: organizações sociais de estudantes em universidades dos EUA, identificadas por letras do alfabeto grego.

 

👛Ainda não sabemos qual será o destino da candidata ao final da “Rush Week”: são, em geral, sete dias de recrutamento, sempre no início do semestre acadêmico. A dona da Saint-Laurent disputará com outras centenas de adversárias uma vaga em uma das concorridas repúblicas da instituição onde estudam.

“As meninas que tiverem interesse precisam ir a todas as casas no primeiro dia. No segundo, começam as eliminações. A cada etapa, vai afunilando mais”, conta ao g1 Julia Whitaker, membro da Kappa Delta em uma universidade da Flórida. “Neste ano, foram 800 candidatas no processo de recrutamento. A gente conversa com elas e vê se quer ser amiga, sabe? Não é uma entrevista.”

✉️O processo seletivo termina de um dos dois jeitos a seguir, no chamado “bid day” (dia da decisão final), quando são entregues os envelopes com os resultados:

  1. saltos ornamentais, lágrimas de alegria, gritos agudos e um novo look para a festa de recepção – afinal, a candidata foi aprovada em uma das irmandades!;
  2. choro e maquiagem da Dior borrada, com um longo depoimento no TikTok sobre rejeição, decepção de não ter entrado na irmandade que desejava e pressão psicológica.

A segunda opção foi vivida por Tilly, uma americana que, dentro do próprio carro, gravou um desabafo sobre a seleção para a vida grega da Universidade de Missouri.

“Sou tímida, achei que fosse um jeito de fazer amigos, mas ninguém falou comigo ao longo da semana. Não sei se pareço malvada, mas prometo que não sou. A Rush é tão difícil”, disse, aos prantos, em um vídeo com milhares de visualizações. 

Nos comentários, ela recebeu apoio de outras meninas que, nos últimos anos, foram rejeitadas pelas Alfas, Deltas e afins.

Para Bruna Camilo, pesquisadora de gênero e doutora em sociologia, a cultura tão forte de repúblicas gregas nos EUA pode expor meninas que já estão fragilizadas psicologicamente.

“Elas querem sentir que pertencem a algo. Isso seria um conceito bonito de acolhimento, de fazer parte de uma nova família, mas acaba frequentemente sendo uma dinâmica sobre se encaixar em determinados padrões. Elas se sujeitam a isso para se sentirem amadas. É como se [os atuais membros] dissessem: ‘vocês precisam ser como nós para terem vida social.” 

➡️Por um lado, há quem diga que participar dessas repúblicas facilita a criação de laços com novos colegas e ajuda a formar uma rede de contatos útil para a vida profissional. Já quem critica a cultura das casas gregas levanta discussões sobre padrões estéticos, preconceito de raça ou de classe, consumismo e controle da liberdade individual.

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