O São João 2023 de Campina Grande está completando 40 anos de realização. Nesta quinta-feira (1º), começa a maratona de shows no Parque do Povo, e a cidade do Agreste paraibano conhecida como Rainha da Borborema passa a respirar as tradições juninas até o dia 2 de julho.
São 32 dias de festa com 98 atrações musicais no palco principal e capacidade de público total de até cerca de 57 mil pessoas por noite. Mas, o que hoje é uma das maiores festas do Nordeste começou, na verdade, de forma despretensiosa, como conta Capilé, cantor campinense que viu o festejo nascer e crescer.
História do São João de Campina Grande
Capilé começou a tocar nos bares de Campina Grande no final dos anos 1970 e viu com os próprios olhos a história do São João de Campina Grande. Primeiro, com o surgimento do Parque do Povo, em 1983, no lugar que antes era chamado de Coqueiro de Zé Rodrigues. Depois, com a definição dos 30 dias de festa e a criação da marca “Maior São João do Mundo”, abraçada pela população local até os dias de hoje.
“A cidade abraçou a ideia. Campina Grande se vestia de festa, todas as ruas enfeitadas, com fogueiras, que dava todo aquele clima de São João. A cidade vestiu a camisa do São João”, relata.
Antes de 1983, os festejos aconteciam nas ruas e nas casas, ou em tradicionais clubes que promoviam shows temáticos. Era incomum pensar que o São João de Campina Grande poderia durar tanto tempo, já que apenas as datas que celebram os santos juninos (12 de junho, Santo Antônio; 23 e 24 de junho, São João; e 28 e 29 de junho, São Pedro) eram comemoradas.
Na época, de acordo com Capilé, as festas de São João mais tradicionais da Paraíba aconteciam em cidades como Santa Luzia, no Sertão do estado, e Taperoá, no Cariri paraibano.
Com a criação do Parque do Povo, a cidade viu surgir uma festa mais organizada. Aos poucos o São João de Campina Grande se inseriu na cena cultural da Paraíba.
“Não tinha palco. Era um serviço de som espalhado pelo Parque do Povo, e em cada canto tinha uma torre e as pessoas ficavam dançando debaixo dessas torres. [Palco no São João de Campina Grande surgiu] em 1986, com a pirâmide, com os shows acontecendo lá, e depois foi crescendo”, explica.
“Capital Mundial do Forró”
Somente dois anos depois da criação oficial da festa, em 1985, Capilé foi convidado a compor a música tema. Ele apresentou ao público a letra que ecoa na memória afetiva dos campinenses:
“Forró em Campina Grande
Todo mundo dança
Forrozando à noite inteira
O tempo passa e não me cansa
Forró em Campina Grande
Todo mundo dança
Forrozando à noite inteira
O tempo passa e não me cansa”
Capa do disco de Capilé para o São João de Campina Grande — Foto: Arquivo Pessoal/Capilé
Capilé tocou a música em cima de um caminhão, ao lado da Pirâmide do Parque do Povo. E assim viveu a primeira de suas inúmeras participações no Maior São João do Mundo.
“Botou um caminhão e alguma coisa de prêmio. Cheguei, tocamos uns 20 minutos e toquei aquela música ‘Capital Mundial do Forró’. Voltei para casa dentro do ônibus na maior felicidade do mundo”, diz.
Capilé cantando em um caminhão no Parque do Povo, em Campina Grande, em 1985 — Foto: Arquivo Pessoal/Capilé
Em 1986, Capilé viveu dois dos momentos mais especiais de sua carreira: a inauguração da Pirâmide do Parque do Povo e o lançamento de seu primeiro disco, apresentado ao público na abertura do São João de Campina Grande.
“Na inauguração da Pirâmide, foi uma multidão. [Cantamos] Eu e Jorge de Altinho, junto das quadrilhas locais (…) Eu apresentei meu primeiro disco. Antigamente, fazer um disco era algo muito difícil, e foi o primeiro ano que fui contratado por uma gravadora. Cheguei no Parque do Povo e fui fazer a abertura do São João, tinha uma multidão me esperando. Eu me senti um artista a partir daquele momento”, disse.
Construção da Pirâmide do Parque do Povo, em Campina Grande — Foto: Divulgação/IHCG
Viver todo esse processo, para Capilé, foi algo natural e gratificante. E apesar das mudanças, a essência da festa, invadida por gêneros musicais opostos do forró, no entanto, deve continuar sendo a mesma.
“[A evolução] foi tudo natural. O mundo não para. O mundo está em movimento, o São João está em movimento. O mundo de 40 anos atrás era um e o de hoje é outro, completamente diferente, e a gente tem que acompanhar essas evoluções. A essência do São João vai ser a mesma de sempre: triângulo, sanfona e zabumba, e o sentimento do nordestino.