Brasileiros devem ter primeira vacina contra a chikungunya, do Butantan, nas próximas semanas
A vacina conta a chikungunya, doença viral transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypt e que provoca dores crônicas nas articulações, deve ser aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) “nos próximos dias ou nas próximas semanas”.
A expectativa é do diretor de Assuntos Regulatórios, Qualidade e Ensaios Clínicos da Fundação Butantan, Gustavo Mendes. O instituto fabrica o imunizante em parceria com a companhia farmacêutica franco-austríaca Valneva.
“Para os próximos dias ou para as próximas semanas, a gente espera, tem a vacina da chikungunya. A gente sabe que é uma questão crítica, e é uma vacina que está pronta e a gente já submeteu [à Anvisa], e está tudo revisado”, revelou em entrevista ao R7.
Ao menos 214 pessoas morreram no Brasil por causa da doença só no ano passado. Em 2025, já são 11,8 mil casos prováveis da doença, com 12 óbitos em investigação e três mortes confirmadas, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde.
Questionado se, além da chikungunya, a vacina também poderia combater a infecção pelo vírus zika, Mendes descartou essa possibilidade. “Zika também está no nosso olhar, temos uma franquia de arboviroses aqui, que inclui zika, como perspectiva, mas que não está tão perto [de ser desenvolvida]”, afirmou.
A contaminação por zika pode provocar sintomas leves em adultos, como febre e dor de cabeça, mas também Síndrome de Guillan-Barré em casos mais graves. Em gestantes, o vírus causa aborto espontâneo e microcefalia nos fetos que conseguem se desenvolver.
A partir da submissão pelo fabricante, a Anvisa tem prazo de 60 dias para aprovar, pedir informações extras ou recusar o pedido. Com a autorização da Anvisa, o imunizante poderá ser comercializado com a rede privada — laboratórios, farmácias, hospitais, etc. — e eventualmente ser adicionado ao PNI (Programa Nacional de Imunizações), na rede pública.
Vacina contra a chikungunya
Seis meses após a vacinação de voluntários no ensaio clínico de fase 3, a vacina se mostrou segura e com eficácia de 99,1%. A fase 3 dos ensaios clínicos envolveu 750 adolescentes de 12 a 17 anos — 500 receberam uma dose única enquanto os outros 250, placebo.
As aplicações foram feitas em áreas de grande incidência da doença: São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR).
Um ano depois, a vacina permaneceu com eficácia elevada: a produção de anticorpos contra a chikungunya persistiu em 98,3% dos jovens.
Os Estados Unidos também já testaram um imunizante em quase 4.000 voluntários, de 18 a 65 anos de idade. Lá, a vacina atingiu 98,9% de eficácia seis meses após a aplicação. Com isso, a americana FDA (Food and Drug Administration) e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) — equivalentes à Anvisa brasileira — aprovaram a aplicação na população.
Passos para aprovação
A Anvisa só aprova uma vacina para ser aplicada na população após três fases. Primeiro, vêm os estudos em laboratório. Em seguida, se a pesquisa for promissora, são feitos testes em animais. Por fim, voluntários humanos recebem o imunizante para testar a produção de anticorpos, além da segurança e da eficácia da vacina.
Embora o estudo brasileiro e o americano se mostrem seguros e eficazes, o órgão regulador precisa analisar o produto e a documentação antes de dar o sinal verde para chegar ao braço da população.
R7