Brasil, ONU, países europeus, árabes e Rússia condenam plano de Trump de expulsar palestinos e assumir controle de Gaza
A ideia proposta por Trump foi repudiada por países do Oriente Médio, europeus e também por órgãos multilaterais como as Nações Unidas. Foi também chamada de “muito surpreendente” pela ONU, “racista” pelo Hamas, “sem sentido” por Lula, e “inaceitável” pela Turquia, por exemplo. Veja abaixo algumas das reações:
França
“A França reitera sua oposição a qualquer deslocamento forçado da população palestina de Gaza, o que constituiria uma grave violação do direito internacional, um ataque às legítimas aspirações dos palestinos, além de um grande obstáculo à solução de dois Estados e um fator de desestabilização significativo para nossos parceiros próximos, Egito e Jordânia, assim como para toda a região”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Christophe Lemoine, em comunicado.
Brasil
O presidente Lula afirmou que a afirmação de Trump “não faz sentido”. “Quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos”, disse Lula em pronunciamento nesta quarta-feira.
ONU
Um alto funcionário da ONU descreveu, nesta quarta-feira (5), como “muito surpreendente” a ideia apresentada por Trump.
“É algo muito surpreendente e ainda precisamos ver concretamente o que isso significa”, disse à agência de notícias AFP o chefe da agência da ONU para refugiados, Filippo Grandi. “É muito difícil se expressar sobre essa questão, que é muito delicada”, acrescentou.
O escritório da ONU também disse ser importante o final da guerra em Gaza e a reconstrução do território com a plena contemplação do direito humanitário internacional e aos direitos humanos.
Alemanha
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que a Faixa de Gaza pertence aos palestinos, e sua expulsão seria inaceitável e contrária ao direito internacional.
Hamas
O grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, chamou de “racista” a fala de Trump sobre o território.
“Nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos se concretizem, e o que é necessário é o fim da ocupação e da agressão (israelense) contra nosso povo, não sua expulsão de sua terra”, afirmou Sami Abu Zuhri, autoridade sênior do grupo.
Arábia Saudita
“A Arábia Saudita rejeita qualquer tentativa de deslocar os palestinos de sua terra. O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, afirmou a posição do reino de maneira ‘clara e explícita’, que não permite qualquer interpretação sob nenhuma circunstância”, disse o Ministério das Relações Exteriores saudita.
Turquia
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, chamou os comentários de Trump de “inaceitáveis”. Qualquer plano que deixe os palestinos “fora da equação” levaria a mais conflitos, segundo Fidan.
Espanha
“Quero ser muito claro sobre isso: Gaza é a terra dos palestinos de Gaza, e eles devem permanecer em Gaza. Gaza faz parte do futuro Estado palestino que a Espanha apoia e deve coexistir garantindo a prosperidade e a segurança do Estado de Israel“, afirmou o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares.
Autoridade Palestina
O presidente palestino da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou que os palestinos não abrirão mão de sua terra, direitos e locais sagrados, e que a Faixa de Gaza é parte integrante do território do Estado da Palestina, juntamente com a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Rússia
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia acredita que um acordo no Oriente Médio só é possível com base na solução de dois Estados. “Essa é a tese consagrada na resolução relevante do Conselho de Segurança da ONU, é a tese compartilhada pela esmagadora maioria dos países envolvidos nessa questão. Partimos desse princípio, apoiamos essa visão e acreditamos que essa é a única opção possível.”
Anistia internacional EUA
“Remover todos os palestinos de Gaza equivale a destruí-los como povo. Gaza é a casa deles. A morte e destruição em Gaza são resultado do governo de Israel matando civis aos milhares, muitas vezes com bombas fornecidas pelos EUA”, afirmou o diretor executivo Paul O’Brien.
Políticos dos EUA
“Os palestinos não vão a lugar nenhum. Este presidente só pode despejar essa baboseira fanática por causa do apoio bipartidário no Congresso ao financiamento do genocídio e da limpeza étnica. Está na hora de meus colegas que defendem a solução de dois Estados se manifestarem”, disse a deputada democrata e palestino-americana Rashida Tlaib.
“Ele perdeu completamente a noção. Uma invasão dos EUA em Gaza levaria ao massacre de milhares de soldados americanos e a décadas de guerra no Oriente Médio. Parece uma piada de mau gosto e doentia“, afirmou o senador democrata Chris Murphy.
EUA vão ‘assumir’ Gaza, diz Trump
Trump e Netanyahu se reúnem na Casa Branca — Foto: Elizabeth Frantz/Reuters
O presidente Donald Trump disse na terça-feira (4), ao lado do premiê israelense Benjamin Netanyahu, que os EUA assumirão o controle e serão donos da Faixa de Gaza, acrescentando que “as mesmas pessoas” (palestinos) não deveriam estar encarregadas de reconstruir e ocupar a terra. Ele afirmou que vê os EUA mantendo uma “posição de posse de longo prazo” no território.
“Ter aquele pedaço de terra, desenvolvê-lo, criar milhares de empregos. Vai ser realmente magnífico”, ele disse.
Trump deu a declaração na Casa Branca, em Washington, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o primeiro líder estrangeiro a ser recebido durante o segundo mandato do Republicano.
Netanyahu não comentou diretamente o plano de Trump para Gaza. Ele afirmou que os objetivos de Israel no território palestino incluem a libertação dos reféns e fazer com que não haja mais ameaças à integridade do país vindas do local.
A repórteres, Trump afirmou que tem planos de visitar Gaza, Israel e também a Arábia Saudita. Ele não deu nenhuma data para a viagem acontecer.
Mais cedo nesta terça, Trump afirmou que a única alternativa dos palestinos que vivem na Faixa de Gaza seria deixar o território — uma ideia apoiada pela extrema direita israelense, e que constituiria limpeza étnica perante o direito internacional, segundo analistas.
Trump afirmou que gostaria que a Jordânia e o Egito recebesse os palestinos deslocados do território, cuja infraestrutura foi seriamente destruída após 15 meses de guerra entre Israel e Hamas — grupo terrorista que controla a região.
Tanto a Jordânia quanto o Egito já demonstraram repúdio pela ideia, defendendo que os palestinos tenham o direito de permanecer em suas terras.
Trump não ofereceu detalhes específicos sobre como um processo de reassentamento de palestinos poderia ser implementado.
Pouco depois das declarações, a Arábia Saudita publicou um comunicado afirmando que não vai estabelecer laços com Israel até que um Estado Palestino seja criado. O país também rejeitou a proposta de Trump de retirar palestinos de Gaza.
Destruição de Gaza
O conflito entre Israel e Hamas, interrompido em janeiro por um acordo de cessar-fogo, gerou uma crise humanitária no território e deixou mais de 40 mil mortos.
Até o ano passado, os Estados Unidos afirmavam ser contra o deslocamento forçado de palestinos. O então presidente Joe Biden defendia a criação do Estado da Palestina e um acordo para convivência pacífica com Israel.
As falas de Trump levantam preocupações sobre uma saída generalizada de palestinos da Faixa de Gaza, o que poderia resultar no “apagamento” do grupo na região e enfraquecer a proposta para a criação do Estado da Palestina.
Trump conversou com o rei Abdullah da Jordânia neste sábado. Em entrevista a jornalistas, o presidente norte-americano afirmou que sugeriu que o monarca aceite palestinos no país, já que a Faixa de Gaza está uma “bagunça”.
No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, reiterou a rejeição de seu país à proposta.
“Nossa rejeição ao deslocamento dos palestinos é firme e não mudará. A Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos”, disse o chanceler.
A proposta de Trump foi elogiada pelo ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, em um comunicado: “A ideia de ajudá-los a encontrar outros lugares para começar uma vida melhor é uma excelente ideia. Após anos de glorificação do terrorismo, (os palestinos) poderão estabelecer vidas novas e boas em outros lugares.”
Smotrich é um dos principais nomes da extrema direita no país, defensor da anexação total dos territórios palestinos por Israel e da criação de novos assentamentos israelenses, considerados ilegais pela ONU e pela maior parte da comunidade internacional.
G1