Em que pese a declaração do presidente Lula, o Palácio do Planalto, o Itamaraty e os ministérios setoriais têm acompanhado os movimentos de Trump sem planejar respostas imediatas. Um bom exemplo citado em termos de diplomacia é o da presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, que conseguiu negociar com Trump e ganhou uma espécie de trégua tarifária, obtendo o adiamento, por um mês, da imposição de tarifas sobre os produtos mexicanos.
Em troca, ela enviou tropas mexicanas para a fronteira que separa o México dos Estados Unidos. Os 10 mil soldados foram designados especificamente para coibir a imigração ilegal e o tráfico de drogas na região. A situação deverá ser reavaliada pelos EUA no fim do mês.
Guerra tarifária de Trump
- Desde que assumiu a Casa Branca, em 20 de janeiro de 2025, Trump iniciou guerra tarifária como estratégia para proteger os interesses dos EUA.
- Até o momento, foram anunciadas taxações para as importações de produtos do Canadá, do México e da China. Países da União Europeia (UE) também entraram na mira de Trump.
- Os presidentes do Canadá e do México buscaram entendimentos com os EUA e, temporariamente, as tarifas foram suspensas.
- O Brasil não esteve na mira de Trump nas primeiras medidas de comércio exterior, mas agora é impactado diretamente, com a taxação sobre o aço e o alumínio importados pelos norte-americanos. Em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA.
A decisão de Trump afetará diretamente o Brasil, que atualmente é um dos principais fornecedores de aço para os EUA. No ano passado, o saldo da balança comercial (total de exportações menos as importações) do Brasil com os Estados Unidos foi deficitária em US$ 253,3 milhões. Os produtos vendidos pelo Brasil somaram US$ 40,3 bilhões, enquanto a soma dos comprados dos EUA foi de US$ 40,6 bilhões.
Ainda em janeiro, sem anúncios concretos, a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Tatiana Prazeres, lembrou que os dois países têm relação histórica e vínculos econômico-empresariais.
Para ela, o fato de que os norte-americanos acumulam superávit na relação comercial com os brasileiros deveria ser levado em conta pelos agentes do mercado financeiro. “As relações profundas entre os dois países, vínculos empresariais importantes, comércio intrafirma significativo são todos fatores que deveriam fazer com que a relação comercial entre os dois países fosse não apenas poupada, mas privilegiada neste novo momento”, frisou.
O governo brasileiro deverá seguir em reuniões ao longo desta terça. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está na França, com previsão de participar, nesta terça-feira (11/2), da Cúpula para Ação sobre Inteligência Artificial (IA).
Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi a primeira autoridade do governo brasileiro a abordar o assunto. Ele disse que o governo tomou a decisão de só se manifestar oportunamente com base em decisões concretas, não em anúncios que podem ser mal interpretados ou até mesmo revistos. “Então, o governo vai aguardar a decisão oficialmente antes de qualquer manifestação”, disse o titular da Fazenda.
Na sequência, o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, afirmou que é necessário aguardar a formalização do ato e pregou o diálogo entre os países. “Vamos aguardar, porque nós acreditamos muito no diálogo. Isso já aconteceu antes, mas houve cotas, foram estabelecidas cotas”, disse.
Alckmin também citou dados da balança comercial entre Brasil e Estados Unidos e ressaltou que a relação entre os países é equilibrada. “É ganha-ganha. Nós exportamos para eles, eles exportam para nós. Ganha a população. Quem tem mais competitividade consegue colocar mais e melhor os seus produtos em benefício da população”, ressaltou.
Indústria também aguarda
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que não vai se posicionar por ora. As associações setoriais, a Aço Brasil e a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) também não estão comentando o assunto oficialmente no momento, mas já demonstram preocupação com os impactos.
A exportação do minério representou, no ano passado, quase metade de tudo que é vendido de terras tupiniquins para o país do Tio Sam, segundo dados da plataforma do MDIC.
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