Bloco Principal

Economia forte, real desvalorizado e exterior adverso pressionam Copom por mais altas de juros; entenda

Para economistas e agentes do mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) terá que acelerar a alta da taxa básica de juros nesta quarta-feira (11), conforme a visão dos analistas para o futuro da economia azedou no último mês.

decepção com o pacote de corte de gastos proposto pelo governo e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos aumentaram a sensação de risco econômico por aqui e no exterior. O resultado foi ainda mais mau humor de investidores com o Brasil e um real em franca desvalorização, chegando à casa dos R$ 6.

O Banco Central já alertava que um cenário pior colocava pressão sobre a inflação brasileira, que demonstrava há meses uma resistência a voltar para a meta de 3%. Em novembro, os membros do comitê haviam elevado a Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. As expectativas agora variam entre 0,75 p.p. e 1 p.p.

A primeira hipótese é a mais provável, de acordo com o boletim Focus desta semana. O relatório reúne as projeções de analistas de mais de 100 instituições, e mostra que a taxa básica de juros deve encerrar o ano em 12%.

Mas há muito analista que espera mais, dado o patamar do câmbio, a força da atividade econômica e a insegurança com a trajetória da dívida pública do país — três injeções de força na inflação. Ainda segundo o Focus, a alta de juros não para por aí, e deve chegar aos 13,5% ao final de 2025.

Nesta reportagem, você entende o que aconteceu, o motivo para a aceleração da alta e quais os prognósticos para a taxa de juros em 2025.

O que pode influenciar nas próximas decisões do Copom?

 

Segundo especialistas consultados pelo g1, uma série de fatores explica a trajetória de alta da Selic das últimas reuniões — e as sinalizações de que ela deve seguir elevada à frente.

Entre eles:

  • As incertezas sobre as contas públicas e os efeitos defasados dos gastos do governo;
  • atividade econômica forte e o mercado de trabalho aquecido;
  • O cenário internacional adverso e a taxa de câmbio pressionada.

 

São três aspectos que trazem consigo fatores inflacionários. O mercado avalia que, enquanto o governo não demonstrar soluções para o aumento de gastos públicos e do endividamento, mais difícil será controlar a inflação. (entenda mais abaixo)

De volta ao último boletim Focus: a estimativa dos economistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, subiu de 4,71% para 4,84% ao final de 2024 — o que confirmaria o indicador acima do teto da meta, de 4,50%.

“Estamos em um momento bastante delicado para a condução da política monetária, com esses três fatores fundamentais indo na direção de um possível aumento de juros”, diz o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel.Entenda cada um dos pontos abaixo.

  • 📉 Incertezas sobre as contas públicas

 

O rumo das contas públicas continua a trazer preocupações. Segundo a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, o aumento de gastos visto no último ano foi focado em transferências de recursos para as famílias, que impulsiona o consumo e traz pressão à inflação.

“Ainda temos um déficit muito alto [quando as despesas superam as receitas]. E o que acabou ficando claro para os investidores é que o arcabouço fiscal pode não ser suficiente para controlar os gastos do governo”, diz a economista.

“A demanda segue aquecida e o consumo das famílias vem forte. Existe também uma defasagem do impulso dos gastos governamentais, que chega nos próximos meses. Somado ao mercado de trabalho em alta, o consumo fica muito robusto e pode impactar a inflação”, completa.

Os últimos dados divulgados pelo BC indicam que, mesmo com o superávit de R$ 36,9 bilhões em outubro, as contas públicas ainda acumulam um déficit de R$ 56,7 bilhões no ano, o equivalente a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB). A meta estabelecida pelo arcabouço fiscal era de zerar o déficit.

Na tentativa de organizar a casa, o governo anunciou recentemente um pacote de contenção de despesas de R$ 70 bilhões para os próximos dois anos. As medidas foram anunciadas, porém, junto à proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha menos que R$ 5 mil, uma renúncia de receita que piora as chances de estabilizar a dívida pública.

Vistas como insuficientes por grande parte do mercado, as medidas ainda precisam do aval do Congresso Nacional, que já sinalizou que o pacote pode enfrentar resistências.

Para o economista do ASA Leonardo Costa, o mercado ainda não conseguiu ver no pacote (na intenção do governo ou nos comunicados recentes) algum indicativo de preocupação com a dinâmica do endividamento. Só com essa métrica controlada que investidores nacionais ou estrangeiros ganhariam confiança de destinar recursos ao país — melhorando a cotação do dólar, por exemplo.

“As projeções que acompanhamos mostram que devemos ver uma continuidade da elevação da dívida pública nos próximos anos”, diz Costa, reforçando que o Banco Central deve ficar atento aos eventuais impactos na inflação que esse cenário deve trazer ao longo do tempo. 

  • 💼 Atividade econômica forte e mercado de trabalho aquecido

 

Assim como os repasses do governo aos programas sociais, a força da atividade econômica brasileira e do mercado de trabalho também tendem a manter o consumo das famílias em alta.

O PIB do Brasil teve aumento de 0,9% no terceiro trimestre de 2024, acumulando alta de 3,1% em quatro trimestres. A expectativa do mercado, segundo o boletim Focus, é de que a economia cresça até 3,39% neste ano.

Além disso, a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua indicou que a taxa de desemprego do país caiu para 6,2% no trimestre encerrado em outubro, na menor taxa de desocupação de toda a série histórica do indicador, iniciado em 2012.

Houve um novo recorde no número de trabalhadores ocupados, e o rendimento mensal real foi de R$ 3.255 no período, alta de 3,9% na comparação anual.

“Os dados de atividade do terceiro trimestre vieram acima do esperado pelos analistas e temos indicação de um mercado de trabalho ainda aquecido. Esses fatores apontam na direção de uma inflação mais forte no curtíssimo prazo, com juros mais elevados”, explica Sichel, da Porto Asset. 

  • 🪙 Cenário internacional adverso e pressão no câmbio

Fora os fatores domésticos, os economistas consultados pelo g1 também citaram questões internacionais que podem influenciar as decisões do Copom.

“Tivemos o resultado das eleições norte-americanas com a vitória de Donald Trump, que desde o começo já levantava bandeiras com medidas que trazem mais crescimento para os Estados Unidos, mas também trazem o risco de uma inflação maior por lá”, explica Rafaela Vitória, do Inter.

A vitória de Trump prevê maior protecionismo para a indústria americana, com elevação de tarifas para produtos importados, e renúncias de receitas para baixar impostos.

Com produtos importados mais caros e menos recursos entrando no caixa do governo, há um aumento das preocupações com a capacidade de o país cumprir com o pagamento da dívida norte-americana — como também acontece aqui.

Isso aumenta a exigência de investidores por um prêmio maior, ou seja, juros mais altos. Isso faz minguar a previsão de que o Fed conseguiria reduzir de forma significativa os juros americanos e mantê-los baixos por mais tempo.

Juros maiores significam título públicos americanos (Treasuries) pagando mais. Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo