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11%, 12%, 13% ao ano… Até onde vai o novo ciclo de alta da Selic?

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BCelevou na quarta-feira (18/9) a taxa básica de juros, a Selic, de 10,50% para 10,75% ao ano. Até aí, sem novidades. A alta era amplamente esperada. Chamou a atenção dos analistas, porém, a dureza do comunicado emitido pelo órgão do BC para justificar a decisão. O texto, na prática, indica que a Selic pode subir mais do que o próprio mercado já vinha projetando.

De acordo com a pesquisa semanal realizada com economistas pelo BC, divulgada no Relatório Focus, a Selic deve fechar este ano em 11,25%. Ou seja, 0,50 ponto percentual acima do atual patamar. Assim, para atingir esse nível seriam necessários novos aumentos da taxa (num total de 0,50 ponto percentual) nas próximas reuniões do Copom, em novembro e dezembro. Para 2025, a estimativa do Focus é de juros básicos de 10,50% e, para 2026, de 9,50%.

Ocorre que, de acordo com o comunicado divulgado na quarta-feira pelo Copom, isso é pouco. Na avaliação de especialistas, os patamares da Selic previstos no Focus são insuficientes para fazer com que a inflação chegue à meta de 3%, no período que o BC considera relevante – que vai até o fim do primeiro trimestre de 2026.

Uma análise do economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, mostra que os modelos adotados pelo BC passaram a estimar uma inflação (medida pelo IPCA) de 3,7% para 2025 (em julho, a previsão era de 3,6%) e de 3,5% para o primeiro trimestre de 2026 (era de 3,4% em julho). Ou seja, números bem acima da meta.

Ritmo mais veloz

“E tais projeções utilizaram como insumo as expectativas de Selic presentes no Focus”, escreveu o especialista em relatório da consultoria. “Ou seja, evidencia-se que esta dinâmica da Selic (prevista no Focus) não é suficiente – nos modelos do BC – para proporcionar a convergência do IPCA à meta de 3% no horizonte relevante.”

Para Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, isso significa que o “BC deverá acelerar o ritmo de alta dos juros”. E por que as projeções da inflação do modelo do Banco Central pioraram? “O principal fator foi a reavaliação da atividade econômica, que está mais forte que o esperado”, diz Cardoso.

Ociosidade menor

Para o Banco Central, destaca o economista, o nível de ociosidade da economia diminuiu. Esse nível, tecnicamente, é medido pelo hiato do produto. Parece um palavrão, mas esse hiato é o resultado da diferença do PIB real, menos o PIB potencial (o nível em que o país cresce sem provocar pressão inflacionária).

Para o BC, o hiato passou de marginalmente negativo na última reunião do Copom, em julho, para positivo agora, impulsionado pelo crescimento do PIB do segundo trimestre. Em suma, e retomando o que foi dito acima, tudo isso quer dizer que não há mais ociosidade na economia e ela está funcionando a pleno vapor – ou mesmo, superaquecida –, num ritmo que pode alimentar a inflação.

Divergências

Ao menos, essa é a tese do Banco Central, na visão dos analistas. Nem todo o mercado, contudo, concordava com essa premissa. Cardoso, do Banco Daycoval, está nesse segundo grupo. Ele acredita que o BC poderia ter mantido a Selic em 10,50% ao ano.

“Entre as duas reuniões do Copom (em julho e setembro), defendíamos que não houve alteração significativa no cenário econômico que justificasse uma deterioração considerável”, diz. “Havia pontos negativos e positivos: de um lado, uma atividade econômica mais forte; de outro, uma qualidade de inflação melhorada e um cenário externo menos adverso.”

De passageiro a motorista

Por isso, o economista considera que o BC adotou uma nova postura na reunião do Copom desta semana. “Nos últimos anos, o Banco Central muitas vezes se viu na posição de passageiro, reagindo a eventos domésticos e externos”, afirma. “A nossa interpretação é de que o BC decidiu assumir o controle de forma mais ativa, tomando as rédeas da política monetária, sem depender de fatores externos.”

Tecnicidades à parte, o fato é que a leitura do Banco Central sobre a atividade econômica está provocando uma reviravolta no mercado. Em bloco, os analistas estão revendo suas projeções da Selic em 2024, considerando que o Copom vai ter de aumentar a dose de juros para levar a inflação à meta de 3%, até o primeiro semestre de 2026.

Ciclo de alta

Com isso, a Tendências, o Daycoval, assim como o Itaú projetam mais dois aumentos dos juros de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom deste ano, além de mais um “chorinho” de 0,25 ponto percentual no encontro de janeiro. Com isso, a Selic terminaria o ano em 11,75% e chegaria a 12% no início de 2025.

Gustavo Bertotti, economista-chefe da Fami Capital, acrescenta que o comunicado divulgado pelo BC nesta semana, sobre a decisão de aumentar os juros, foi o mais duro do ano. Ele concorda que devem ocorrer mais dois aumentos de 0,50 ponto percentual neste ano, levando a Selic para 11,75% ao ano. “Uma elevação residual de 0,25 ponto ainda depende de uma análise de dados em janeiro”, diz.

A questão é que, como se vê, a prescrição de mais 1 ponto da Selic neste ano, além do eventual 0,25 ponto em janeiro, começa a orientar as projeções. Se as estimativas para a inflação no primeiro semestre de 2026 aumentarem, até esse ritmo do ciclo de alta dos juros pode ser considerado tímido pelo mercado.

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