O valor de algumas das empresas de luxo mais conhecidas do mundo está despencando à medida que os consumidores chineses reduzem os gastos, e até mesmo as marcas mais exclusivas estão sentindo o impacto.
As vendas do primeiro semestre na potência de luxo de Bernard Arnault, a LVMH, dona da Louis Vuitton e da Christian Dior, caíram 10% ano a ano na Ásia, excluindo o Japão, uma região dominada pela China.
A derrocada parece estar acelerando, com essas vendas caindo 14% no segundo trimestre, segundo os resultados publicados na terça-feira (25) à noite.
As ações da LVMH, cujas ofertas também incluem joias de alto padrão e estadias em hotéis de luxo, caíram 4,7% na quarta-feira (24), seu maior declínio em um dia desde outubro.
As ações reduziram algumas de suas perdas no início da tarde de sexta-feira (26) em Paris, mas ainda estavam 4,4% abaixo do que antes da divulgação dos lucros.
Os números do termômetro da indústria de luxo também tiveram um efeito assustador nas ações da Prada, que caíram 3% em relação ao seu nível de fechamento na terça-feira. A empresa listada em Hong Kong deve divulgar os resultados semestrais na próxima semana.
“Por enquanto, o mercado (de luxo) continua volátil, à medida que os investidores reavaliam a crença antiga de que as marcas de luxo são um investimento seguro, protegido de crises econômicas mais amplas”, disse Jochen Stanzl, analista-chefe de mercado da CMC Markets, à CNN.
As 10 maiores empresas de luxo da Europa perderam US$ 250 bilhões em valor de mercado desde março, informou a Reuters na quinta-feira (27).
O declínio da LVMH na China coincide com quedas acentuadas nas vendas na segunda maior economia do mundo, relatadas pela Richemont, dona da joalheria Cartier, e pela montadora alemã Porsche.
A Richemont, que viu as vendas caírem 27% na China, Hong Kong e Macau nos três meses até o final de junho, em comparação com o ano anterior, disse que um “baixo nível de confiança do consumidor” foi uma razão fundamental para a queda.
Da mesma forma, a Porsche citou em parte “demanda fraca no segmento de luxo” na China.
A Mercedes-Benz, outra fabricante de carros de luxo, também revelou uma queda nas vendas na sexta-feira, embora menor, com a receita em sua divisão de carros caindo 4% no segundo trimestre.
“O mercado chinês contraiu ligeiramente; a situação do mercado no segmento premium e de luxo na China permaneceu fraca”, disse a empresa.
Enquanto isso, a proprietária da Gucci, Kering, disse que houve “uma desaceleração acentuada” em sua receita na China nos primeiros seis meses do ano e “as tendências não melhoraram muito na América do Norte e na Europa”.
No entanto, a Hermès contrariou a tendência. A empresa conhecida pelas bolsas Birkin — cujos preços variam de US$ 10.000 a centenas de milhares de dólares — e lenços de seda relatou crescimento nas vendas em todos os países da região da Ásia, dos quais a Hermès exclui o Japão, no primeiro semestre de 2024.
Desaceleração da China
Os relatórios de lucros refletem uma reviravolta impressionante nos gastos dos consumidores chineses, que gastaram em produtos premium após o fim das restrições da pandemia, ajudando a impulsionar o crescimento no setor de luxo.
Parece que a economia vacilante da China está finalmente prejudicando muitas marcas que atendem até mesmo os consumidores mais abastados. O país está lidando com uma série de desafios, desde gastos lentos do consumidor e uma queda persistente no mercado imobiliário até uma crise crescente de dívidas em governos locais.
A economia da China cresceu 4,7% ano a ano no segundo trimestre do ano, de acordo com dados oficiais divulgados na semana passada, ficando abaixo das expectativas dos economistas e marcando o crescimento mais fraco desde o primeiro trimestre de 2023.
A desaceleração econômica da China pode não estar afetando todos os consumidores igualmente, mas parece estar restringindo as compras ostentosas dos ricos, no que a consultoria Bain & Company chamou de “vergonha do luxo”, semelhante ao que aconteceu nos Estados Unidos durante a crise financeira global.