Recentemente, pesquisadores brasileiros identificaram novas espécies dos denominados “peixes das nuvens” na Caatinga do Rio Grande do Norte e do Ceará. Essa denominação curiosa surge porque os habitantes locais acreditam que esses peixes literalmente ‘caem do céu’ na região.
Em uma entrevista ao portal Terra, o biólogo Telton Pedro Anselmo Ramos, administrador da página Peixes da Caatinga, explicou que, durante as chuvas, as poças se enchem, proporcionando o surgimento dos peixes e levando as pessoas a pensarem que eles realmente ‘caem do céu’.
Ele explica que, na realidade, essa espécie de peixe possui um ciclo de vida singular. Eles depositam os ovos e os enterram no substrato. Quando as lagoas se enchem, esses ovos eclodem, permitindo o estabelecimento da população, detalhou o biólogo.
Características
Do ponto de vista científico, esses animais são denominados peixes anuais, ou killifishes em inglês. Telton destaca que, comumente, essas espécies habitam áreas próximas a rios.
Durante as chuvas, os níveis aumentam, resultando na expansão da água para diversas regiões da várzea do rio, propiciando o surgimento desses seres.
Os peixes das nuvens permanecem vivos apenas durante o período de cheias desses ambientes. Devido a essa característica, o tempo de vida exato ainda não é completamente conhecido. Contudo, estima-se que, após o aumento do nível da água, eles eclodem e iniciam o processo reprodutivo em aproximadamente 15 dias a 1 mês.
Durante um intervalo de 2 a 3 meses, ocorre a reprodução enquanto a lagoa está cheia, culminando no desaparecimento antes ou durante a completa secagem.
No total, o grupo de pesquisadores, composto por Telton Pedro Anselmo, Yuri Abrantes, Diego de Medeiros Bento e Sérgio Maia Queiroz Lima, identificou três espécies.
Animais ameaçados
Devido à expansão urbana e à falta de reconhecimento por parte das comunidades, a destruição dos habitats dessa espécie, frequentemente imperceptíveis, é ocasionada por atividades como o tráfego de cavalos e tratores nas áreas.
A escassez de conhecimento sobre essas espécies contribui para seu declínio, uma vez que as pessoas não percebem sua presença nas poças temporárias.
Uma das iniciativas do grupo, além de gerar conhecimento científico e identificar as espécies ameaçadas, é desenvolver ações de educação ambiental para evidenciar os impactos que afetam essas espécies, inclusive aquelas que não são oficialmente listadas como ameaçadas.
Por isso, especialistas buscam conscientizar sobre a diversidade de peixes na Caatinga, muitas vezes negligenciada como uma região árida. Poucas pessoas sabem, mas o bioma abriga mais de 400 espécies de peixes. Assim, organizações usam plataformas como o Instagram e outras redes para compartilhar essas informações.