A introdução alimentar é uma fase importante durante o primeiro ano de vida de uma criança. No entanto, alguns alimentos podem ser contraindicados nessa fase, como o mel.
Embora a substância seja rica em vitaminas, para bebês de até 1 ano de idade, ela pode ser tóxica e até mesmo fatal, afirma a pediatra Anna Bohn, membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
“Essa recomendação existe por conta de uma doença chamada botulismo, transmitida a partir de comidas enlatadas ou em conserva que estejam contaminadas com a bactéria que causa essa doença, entre elas o mel. Por razões não totalmente conhecidas, algumas crianças menores de 1 ano são mais suscetíveis, e, quando essas bactérias são ingeridas acidentalmente, caindo no trato gastrointestinal, podem produzir toxinas mais intensamente.”
Embora a intoxicação não seja certeira em todos os casos de consumo, sendo o botulismo uma doença rara, casos da doença anteriores ao primeiro ano da criança estão fortemente associados com o fator comum da ingestão de mel ou outros enlatados.
De acordo com a pediatra Elisabeth Fernandes, também da SBP, o botulismo infantil é uma forma específica da doença, contraída pela ingestão de alimentos contaminados por uma toxina formada durante o crescimento da bactéria Clostridium botulinum, afetando apenas a faixa etária relacionada à recomendação de não haver ingestão do mel.
“A microbiota intestinal imatura permite a germinação, a multiplicação e a produção de neurotoxina botulínica no intestino infantil, o que não ocorre nos maiores de 1 ano de idade”, alega Elisabeth.
O diagnóstico de botulismo é feito a partir da observação clínica. Os sintomas podem incluir constipação, evoluindo com sintomas neurológicos, como fraqueza muscular importante, dificuldade para mamar, perda de expressão facial e choro fraco. A confirmação ocorre com a identificação da bactéria em uma amostra de fezes do bebê.
O tratamento inclui medidas de suporte respiratório e administração de soro com anticorpos (imunoglobulina antibotulínica) para neutralizar as toxinas.
As pediatras dizem que, embora o mel deixe de apresentar riscos às crianças após completarem o primeiro ano de vida, é recomendado que sua utilização seja feita apenas de forma pontual, como opção anti-inflamatória ou para xaropes caseiros para tratar quadros de tosse.
“Importante dizer que o consumo de alimentos adoçados com mel não é indicado antes dos 2 anos de idade. A razão por trás disso é preservar o paladar neutro das crianças, incentivando a aceitação de frutas in natura, legumes, verduras e saladas. Ao evitarmos a introdução de açúcares e mel precocemente, contribuímos para uma alimentação mais saudável e equilibrada na infância e na vida adulta”, afirma Elisabeth.
Tal dieta, com alimentos mais naturais, sem açúcar e sem processados, auxilia a formação de uma microbiota intestinal mais diversificada das crianças, diminuindo o índice de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta, como diabetes, hipertensão e obesidade.
Anna finaliza afirmando que, após os 2 anos, o ingrediente pode ser utilizado para adoçar preparos como bolos e iogurtes, sempre com moderação.
R7