Numa decisão que deixou funcionários e diplomatas da ONU indignados, o governo de Israel anunciou que não concederá vistos para os funcionários humanitários da entidade. A medida seria uma resposta à crescente crise entre as Nações Unidas e o governo de Benjamin Netanyahu.
Na terça-feira, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, havia afirmado em um discurso no Conselho de Segurança que os ataques do Hamas deveriam ser entendidos dentro de um contexto mais amplo e que eles “não ocorreram no vácuo”. A declaração ainda destacou que os palestinos vivem 56 anos de uma “ocupação sufocante”.
Essa não foi a primeira vez que Guterres fez a declaração. Mas o governo de Israel usou a ocasião para dizer que tal comportamento era inaceitável, “imoral” e que pedia a renúncia do chefe da ONU.
Agora, numa entrevista a uma rádio, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, anunciou que seu governo recusou dar visto para o chefe de operações humanitárias da ONU, Martin Griffiths, e que outros representantes serão barrados de entrar no país. O gesto seria uma resposta ao discurso de Guterres, que também denunciou Israel por violações do direito humanitário internacional.
“Diante de sua declaração, vamos recusar vistos para os representantes da ONU”, disse Erdan. “Já recusamos para Martin Griffiths. O tempo chegou para dar uma lição a eles”, insistiu.
O UOL, há duas semanas, revelou que a crise já havia eclodido nos bastidores, numa carta enviada pelo governo de Israel criticando o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk. Os israelenses insistem que o austríaco deveria se concentrar em condenar o Hamas, sem qualquer comentário sobre as operações das forças israelenses na Faixa de Gaza.
O UOL também obteve informações de que, nos últimos dias, a diplomacia de Netanyahu tem enviado cartas aos diferentes órgãos da ONU, cobrando uma posição de crítica ao Hamas. As cartas, segundo pessoas que tiveram acesso a eles, soaram como ameaças à instituição.
Relatores da ONU, por sua vez, já declararam a operação de Israel em Gaza como um “crime contra a humanidade” e que existe o “risco de genocídio”.
A crise diplomática se soma à paralisia vivida pela ONU diante da guerra. Com sucessivos vetos e impasses, o Conselho de Segurança tem sido incapaz de dar uma resposta à violência.
UOL