Ontem (19), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e os diretores da autoridade monetária fizeram apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas da economia e o comportamento do mercado financeiro. Hoje, o grupo avalia possibilidades futuras até definir o patamar da Selic, a ser anunciado após as 18h.
Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, da Anefac (Associação Nacional de Executivos), a redução a ser anunciada terá um efeito muito pequeno nas operações de crédito no Brasil. “Existe um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas de juros cobradas aos consumidores que na média da pessoa física atingem 124,76% ao ano, provocando uma variação de mais de 800% entre as duas pontas”, explica.
Na ata da última reunião, ao justificar o surpreendente corte de 0,5 ponto percentual dos juros básicos, o Copom estimou que novas reduções da mesma magnitude seriam anunciadas nos próximos meses.
“Os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, destaca o documento.
As perspectivas de que o BC vai manter a intensidade da redução dos juros surge em linha com a recente perda de força da inflação. A alta de preço abaixo das expectativas ao longo do mês de agosto aumenta, inclusive, a chance de uma política monetária menos restritiva, com queda de 0,75 ponto percentual da taxa básica de juros no mês de dezembro.
Após a segunda baixa consecutiva da taxa Selic ser confirmada, os analistas preveem dois novos recuos de 0,5 ponto percentual dos juros básicos nos meses de novembro e dezembro, movimento que, se confirmado, levará a Selic a 11,75% ao ano na entrada de 2024. Conforme as projeções, a trajetória de baixas deve persistir em 2024 (9% ao ano) e em 2025 (8,5% ao ano).
Juros básicos
A taxa Selic, usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais, é a mais baixa da economia e funciona como forma de piso para os demais juros cobrados no mercado.
Em linhas gerais, é a taxa que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo a empresas ou consumidores em forma de empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.
A taxa básica também serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.