Proposta do MEC para o Ensino Médio tem avanços, mas precisa de ajustes em 2 temas, avaliam especialistas
O Ministério da Educação (MEC) anunciou na segunda-feira (7) uma proposta de alteração do Novo Ensino Médio, elaborada após uma consulta pública e uma série de reuniões com entidades de educação. É ainda uma versão provisória, que, segundo especialistas ouvidos pelo g1, necessita dos seguintes ajustes antes de ser apresentada ao Congresso:
- correção da carga horária de formação obrigatória para o ensino técnico, para que os alunos não sejam prejudicados no Enem;
- maior liberdade para as redes definirem “itinerários formativos”, mas com diretrizes mais claras por parte do MEC.
Entenda abaixo:
1- Correção da carga horária de formação obrigatória para o ensino técnico
Como funciona atualmente: O Novo Ensino Médio prevê um total de 3.000 horas-aula, sendo 1.800 para disciplinas obrigatórias (ciências da natureza, ciências humanas, linguagens e matemática) e 1.200 para optativas (itinerários formativos escolhidos pelo aluno). Português e matemática devem estar presentes nos três anos do ciclo.
Mudança sugerida pelo MEC: A formação geral não pode deixar de fora, além de português e matemática, os conhecimentos de: espanhol, arte, educação física, literatura, história, sociologia, filosofia, geografia, química, física, biologia e educação digital.
A carga mínima destinada a esses conteúdos obrigatórios subiria de 1.800 horas para 2.400 horas. Mas, no caso dos cursos técnicos, o limite seria mais baixo: de 2.200 horas.
Acertos e críticas: ✅Aumentar a carga horária dos conteúdos obrigatórios é uma demanda da comunidade escolar desde o início da implementação do Novo Ensino Médio. Em algumas redes, disciplinas importantes, como história e geografia, estavam “desaparecendo” do currículo. ” Estamos em luta (…) pelo fim do teto de 1.800 horas, para que seja possível um ciclo formativo que valorize nossas múltiplas inteligências”, afirma a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
✅Educação digital é um ponto positivo das mudanças, postou Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP. Para ele, deve haver “uma perspectiva de Educação Crítica das Mídias”.
⚠️Ter uma carga menor de formação geral obrigatória para os alunos do ensino técnico poderia prejudicá-los no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), afirma Gabriel Corrêa, gerente de Políticas Educacionais da ONG Todos Pela Educação.
Na proposta do MEC, exatamente o conteúdo obrigatório que seria cobrado na prova. Como dar 2.400 horas de aula para alguns candidatos, mas 2.200 horas para outros?
Além dos problemas pedagógicos, haveria uma dificuldade prática na implementação de cargas horárias diferentes para alunos de uma mesma escola.
“Quais aulas o pessoal do técnico não terá? Seria um avanço maior se a carga horária mínima fosse a mesma para todos, sem exceções”, diz Corrêa.
⚠️É preciso pensar na formação obrigatória sem inviabilizar a oferta de cursos técnicos nas horas restantes. “Enfermagem, por exemplo, é um curso de 1.200 horas. Essas duração extrapola a carga disponível [de 800 horas]. [Para ser viável,] precisa ser discutido com os secretários de educação”, diz Ricardo Tonassi Souto, presidente do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais e Distrital de Educação (Foncede).
2- Oferta muito limitada dos “itinerários formativos”
Como funciona atualmente: Desde o início de 2023, cada estudante passou a poder montar seu próprio ensino médio, escolhendo os assuntos nos quais deseja se aprofundar. Cada rede oferta quantos “itinerários formativos” quiser, dentro das cinco áreas de conhecimento:
- Matemática,
- Linguagens,
- Ciências da Natureza,
- Ciências Humanas
- e Formação Técnica e Profissional.
É obrigatório que as escolas ofertem ao menos duas opções de itinerário.
Na prática, alunos da rede pública em cidades menores, com menos recursos, têm um “cardápio” de itinerários formativos mais enxuto. Eles podem ser prejudicados em relação aos estudantes de escolas privadas ou de municípios maiores.
Mudança sugerida pelo MEC: Os itinerários formativos virariam apenas três “percursos de aprofundamento e integração de estudos”:
- Linguagens, Matemática e Ciências da Natureza;
- Linguagens, Matemática e Ciências Humanas e Sociais;
- Formação Técnica e Profissional.