Mãe relembra queixa da filha que morreu após complicação na extração de dentes do siso: ‘Foi no nosso quarto gritando de dor’
Uma jovem de 18 anos morreu no interior de São Paulo depois de complicações provocadas pela retirada dos dentes do siso. A história da Isadora Belon Albanese repercutiu nas redes sociais e acendeu um alerta sobre os riscos desse procedimento e os cuidados que precisam ser tomados antes e depois da cirurgia.
Isadora era a única filha de Ricardo e Graziela. Este ano, a jovem começou a sentir desconforto no dente do siso do lado direito e decidiu extrair os dois dentes dessa região.
A dentista recomendou que ela também extraísse o dente do siso do lado esquerdo como precaução. No entanto, algo inesperado aconteceu durante a extração do dente do siso do lado esquerdo. Após a segunda cirurgia, Isadora experimentou dois dias de intensa dor.
“Ela já foi no nosso quarto gritando de dor e falando: eu não aguento mais, eu não aguento mais. A dentista me acalmou e falou: não, isso é previsto, calma, vamos trocar o antibiótico […] ela teve falta de ar”, relatou a mãe de Isadora.
Isadora foi internada e morreu dois dias depois. Os pais levaram o caso às redes sociais e reuniram mais de 60 mil assinaturas para pedir que fosse criada uma normativa para a extração do siso.
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo recebeu o pedido, mas disse que não é possível impor uma norma única para a extração do dente do siso. O órgão é que fiscaliza esses profissionais sempre que recebe uma denúncia.
“Um protocolo eficiente, ele dá ao profissional liberdade de escolha entre a manobra técnica que ele achar a mais pertinente, bem como de pra aplicar o melhor medicamento para aquele evento cirúrgico planejado”, explicou Sidney Neves, especialista em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial.
O médico ainda esclarece que a extração do dente do siso em si não é uma causa comum de morte.
“Na verdade, ela não morreu tirando o dente do siso. Normalmente está relacionado a um processo infeccioso e vale lembrar que são muito raros. A cirurgia do siso é um procedimento extremamente seguro, destacou o especialista.
Paciente que teve complicações, precisa fazer fisioterapias após extração
Outro caso mostrado na reportagem também retrata possíveis complicações desse tipo de cirurgia. A fotógrafa Alessandra Alves ainda faz fisioterapia pra recuperar os movimentos da boca depois de tirar dois sisos no começo de junho.
“Os músculos estão bem atrofiado, não consigo abrir a boca totalmente ainda pra comer. Foi bastante traumático”, relatou Alessandra.
No dia seguinte à cirurgia, Alessandra começou a perceber que algo estava errado. O inchaço repentino na lateral da bochecha, que se espalhou para o pescoço fez com que ela tivesse que ir para o hospital. Em razão das complicações, Alessandra foi internada duas vezes. Ao todo, ela ficou 22 dias na unidade de saúde.
“A última internação, eu corria risco de vida, já estava correndo o risco de ir pro sangue a bactéria”.
Paciente teve complicações após extração dos dentes do siso — Foto: Reprodução/TV Globo
Riscos e cuidados
As infecções dos dentes do siso em casos graves – podem ultrapassar a camada óssea e se espalhar pelo corpo comprometendo outros órgãos.
Segundo especialistas, a cirurgia para retirada desse dente é bem mais moderna que no passado, mas ainda assim invasiva. Por isso, é importante que o cirurgião-dentista levante todo o histórico de doenças do paciente e avalie a necessidade de exames de sangue e radiografia – independentemente da idade.
“O ideal é que a gente tenha aí de seis a oito semanas de prazo entre uma cirurgia e outra. É melhor fazer um de cada vez”, disse Mustapha Amad Neto, cirurgião-dentista.
O pós-operatório também tem detalhes importantes: o paciente tem que evitar esforço físico, ter cuidado com a higiene da boca, alimentação fria – líquida ou pastosa e é preciso seguir à risca a medicação prescrita.
O que dizem os envolvidos?
Em nota, o Hospital Modelo, de Sorocaba, disse que Isadora foi submetida a uma bateria de exames que constatou um quadro já grave de infecção. Mesmo com medicamentos, o estado se agravou para infecção generalizada.
Ainda de acordo com a unidade de saúde, ela foi submetida a uma cirurgia com médico especializado em operações bucomaxilares. Mas os esforços empregados foram insuficientes.
A reportagem questionou sobre o atraso do cirurgião especializado, mas o hospital não respondeu a essa questão.
A dentista que atendeu Isadora também informou que todas as medidas preparatórias foram tomadas., assim como as medicações pré e pós-operatórias e o acompanhamento pós-cirúrgico e orientações à família. E que lamenta o ocorrido.