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Xampu com Mentos, hidratante com Bubbaloo e protetor labial com Fini: tudo bem ou itens exigem cuidados?

 

Cosméticos com cheiro de balas comestíveis estão entre as novidades no mercado, uma estratégia de marketing que aposta na associação entre o cheiro de guloseimas populares e a utilidade de produtos cosméticos. O relato de um caso de suposta alergia viralizou nesta semana no Twitter, mas não há registro de qualquer problema registrado junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Abaixo, especialistas ouvidos pelo g1 apontam o que está por trás dessa estratégia, minimizam o risco e explicam em que circunstâncias é preciso redobrar os cuidados.

O que está por trás do rótulo?

 

De acordo com Victor Infante, doutor em ciências farmacêuticas com ênfase em cosméticos pela Universidade de São Paulo (USP), os fabricantes de cosméticos se valeram dos aromatizantes que também são usados pela indústria alimentícia.

Identificados como “aroma” ou “parfum”, as substâncias que dão cheiro ao produto são uma mistura de diferentes moléculas, bem como de óleos essenciais, solventes e os fixadores.

No entanto, sua concentração é baixíssima (em torno de 0,5%) porque esse composto pode facilmente desestabilizar a fórmula e uma quantidade maior faria com que o cheiro do produto se tornasse muito forte.

Infante destaca que, no caso de moléculas que tem maior potencial alérgeno, elas precisam constar no rótulo de maneira específica. Isso faz parte de uma lei da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que prevê que o fabricante coloque de forma separada no rótulo quais são os alérgenos contidos no produto para que o consumidor possa identificar.

Eles não são os mais agressivos, mas tudo pode causar irritação.
— Victor Infante

A agência determina ainda que quando os aromatizantes excedem a concentração de 0,001% nos produtos sem enxague e 0,01% em produtos com enxague isso deve estar indicado na embalagem.

Nas redes sociais surgiram relatos de alergias associadas ao uso do produto para os lábios. O g1 entrou em contato com uma consumidora que alegou ter tido uma reação alérgica após o uso do hidratante labial com cheiro de balas Fini, mas ela não quis se identificar e disse que estava tratando o ocorrido diretamente com a empresa fabricante.

Consultada pelo g1, a Anvisa informou que, até o momento, não havia recebido denúncias ou relatos de eventos adversos associados ao uso de hidratantes labiais da marca. Para notificar qualquer evento adverso basta acessar o portal da agência.

Aroma de alimento x alergia

 

O fato de determinadas formulações contarem com um aroma ou cor artificial não é determinante para o surgimento de alergias, como explica Andre Bernardo, diretor presidente da AABEQ (Associação Brasileira de Engenharia Química) e professor de Engenharia Química da UFSCAR.

Além disso, as alergias muitas vezes são uma grande incógnita e é preciso fazer um exame chamado ‘teste de contato” para tentar identificar os possíveis causadores. Ao longo da vida é comum que algumas pessoas deixem de ter reações a coisas que antes causavam irritação e adquiram novas alergias.

Infante cita que, quando se trata de aromas, os componentes químicos conhecidos pela maior probabilidade de causar reações quando aplicados na pele são citralcitronelollanolina e cumarina. Vale lembrar também que algumas pessoas são mais sensíveis do que outras e as reações dependem do organismo de cada um.

“Tudo que tem perfume, até frutas e produtos de limpeza, têm aromas que podem causar alergia. Por isso é difícil ter uma noção exata do que está causando a reação”, afirma Victor.

Corantes e conservantes

 

Joyce Rodrigues, farmacêutica especialista em cosmetologia, diz que corantes e conservantes também podem ser os responsáveis por reações alérgicas.

“As pessoas têm um consumo alto de alimentos e bebidas industrializadas, até rotinas de skincare têm muito conservante na formulação e essa concentração em excesso é sentida pelo organismo”, afirma.

André completa afirmando que os corantes mais problemáticos são os chamados corantes reativos.

“Normalmente têm um halogênio (flúor, cloro, boro ou iodo) heterocíclico que pode reagir com uma superfície, fibra de tecido ou a pele. É a mesma razão pelo qual parabenos e formol (ou geradores de formol) têm maior potencial alergênico”, diz o presidente da ABEQ.

No caso de produtos para lábios, Joyce afirma que as empresas fazem estudos específicos para a região, visto que a mucosa é um local mais sensível e requer uma outra formulação.

Na maioria dos rótulos é comum encontrar a orientação para que não se aplique cremes hidratantes sobre a pele irritada ou lesionada, assim como para não usar o hidrante labial na boca rachada ou com feridas.

“Fala que não é para passar numa pele não íntegra porque os testes são feitos na pele íntegra e não tem como garantir que o cosmético seja seguro na ele não íntegra”, explica Victor Infante.

Segundo o especialista, são necessários outros tipos de testes em laboratórios quando se trata de produtos para regiões que estão machucada “Sai da categoria de cosmético e entra na categoria medicamentosa”, afirma.

Questionada pelo g1, a Cimed, fabricante do hidratante labial em parceria com a Fini afirmou que “todos os produtos são dermatologicamente testados, a fim de garantir os mais altos padrões de segurança e qualidade e atendendo todos os requisitos legais”. Em casos de alergias, a empresa recomenda que o uso seja suspenso.

Ao g1, Vanessa Machado, a diretora de categoria de Corpo e Banho do Grupo Boticário, afirmou que “a avaliação de segurança do Grupo Boticário inicia no momento da escolha das matérias-primas presentes na fórmula, visando evitar a utilização de substâncias com potencial de causar algum tipo de reação adversa e, ainda, outros possíveis efeitos sistêmicos”.

Machado ainda afirma que os ingredientes são seguros na concentração proposta para o produto final. A recomendação da empresa é de que um médico seja consultado se reações adversas ocorrerem.

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