Com o crescimento da produção, o consumo de carne bovina pelos brasileiros vai aumentar em 2023, após cinco anos de queda. De acordo com a projeção da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a disponibilidade per capita da proteína vai passar de 26 para 29 quilos por habitante no ano, uma alta de 11,6%.
Somados os três principais tipos de proteína animal consumidos pelos brasileiros, a bovina, a suína e a de frango, esse número atingirá 96 quilos por habitante no ano – segundo maior índice já registrado, sendo inferior apenas a 2013.
Nos últimos anos, o consumo de carne bovina despencou no país. Em 2018, cada brasileiro comeu, em média, 34 quilos de carne. No ano seguinte, o consumo médio foi de pouco mais de 30 quilos. Em 2020 e 2021, ficou estabilizado em 27 quilos. E, no ano passado, recuou a 26 quilos por habitantes no ano.
A quantidade do produto no mercado doméstico, considerando carne bovina, suína e de frango, está projetada em 20,77 milhões de toneladas, um aumento de 5% se comparado com volume estimado em 2022.
“Esse cenário contribui para uma tendência queda nos preços, o que já começa a ser percebido no mercado como mostra a pesquisa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor [IPCA] divulgado, em março, pelo IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]”, afirma o presidente da Companhia, Edegar Pretto.
No acumulado dos últimos 12 meses, o preço da carne caiu 4,05%, de acordo com a prévia da inflação de abril, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgado pelo IBGE na última quarta-feira (26). Enquantoque a inflação no período foi de 4,16%. Entre os cortes, alcatra e contrafilé caíram mais de 5%, mas a maior queda foi da capa de filé, de 8,55%.
A esteticista Lourdes Aparecida, de 49 anos, espera voltar a comer carne bovina. Ela deixou de comprar o produto desde a pandemia de Covid0-19. Com a disparada dos preços nos últimos anos, Lourdes teve que substituir o produto pelas carnes suína e de frango, mais em conta.
Agora, apesar da desaceleração dos valores, ela acha que a proteína ainda está cara. “Está muito cedo para perceber uma melhora. Os preços ainda são muito altos”, afirma a esteticista.
O economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), explica que a carne, nos últimos três anos, subiu muito de preço, mas, recentemente, se estabilizou num patamar alto, além de apresentar alguma queda, frente a outros alimentos que continuaram subindo.
“Mas não acho que essa queda tenha justificadao alta do consumo do produto. Acho que alguma injeção de recursos na própria economia ajudou a colocar um pouco mais de alimentos na mesa das famílias”, avalia Braz. “Para as famílias de baixa renda, a carne se tornou um item raro na dieta, mesmo agora estando com preços mais comportados.”
Braz destaca que o país atravessou um período de retrições às exportações, o que ajudou a abastecer mais o mercado doméstico, com oferta maior e uma pressão inflacionária menor.
A queda nas exportações do produto ocorreu em virtude de um início de ano impactado pela suspensão da venda da carne bovina, principalmente ao mercado chinês, por conta de medidas previstas em protocolos sanitários. Esta situação foi contornada com o fim do embargo pela China, ainda no final de março.
“O cenário de alta na produção aliado a uma queda nas vendas ao mercado externo possibilita um aumento de 12,4% na disponibilidade da carne bovina no cenário doméstico, podendo chegar a 6,26 milhões de toneladas. A maior oferta influencia positivamente na disponibilidade per capita, no qual é esperada uma recuperação na ordem de 11,6%, estimada em 29 quilos por habitante por ano”, afirma a Conab.
Para o economista do FGV Ibre, a boa notícia é que o mundo está desacelerando. Países estão vivendo processo semelhante ao Brasil, e nessas nações também se pratica juros mais altos nesse momento para conter a inflação. O que pode ajudar a segurar os preços da carne.
“Isso pode esfriar a demanda internacional, e repercutir positivamente no preço da carne, por não ter viés de alta no curto prazo. Isso se sustenta por um clima mais favorável, porque está chovendo com mais regularidade, não há nenhum prejuízo para pastagem, os preços das rações derivadas da soje e milho, em especial, estão em desacelerção. O que não aumenta os custos da pecuária, e acaba depositando pressão menor no preço final ao consumidor”, analisa Braz.
R7