“Ele ia na minha casa, eu ia na dele. Chegou até a me dar um skate, saíamos juntos. E tocávamos juntos, fazíamos shows. Gostava muito dele porque era uma pessoa real. Não era um personagem, ele era aquela figura. Ainda que você não concorde muito com coisas que pessoas fazem, tem que admirar quando elas são verdadeiras, esse é um terreno sagrado”, disse Rodolfo.
Chorão — Foto: Divulgação
“Quando comecei a ter minhas experiências com Deus, saí do Raimundos e minha vida mudou. Reencontrei o Chorão em show em Belo Horizonte, com Charlie Brown e Rodox, em 2003. No camarim ele chegou para mim, puxou numa cadeira, distante de outras pessoas, e falou: “Conta como foi a parada”.
“Eu contei como foi a minha experiência com Deus. Achava fantástico isso no Chorão: ele estava ouvindo, absorvendo, não me julgou. Dava pra ver que percebeu a diferença na minha vida e queria saber o que estava acontecendo”, disse o ex-vocalista dos Raimundos.Quando se pensa nas letras de Chorão, a primeira imagem talvez seja do rapaz sem dinheiro e desbocado que corteja uma “princesa”. Esse é o caso dos hits “Proibida pra mim”, “Vícios e virtudes”, “Tudo o que ela gosta de escutar” e “Champanhe e Água Benta” (do verso “Toda patricinha adora um vagabundo”). Na mesma música, dizia que sua vida era “tipo um filme de Spike Lee: verdadeiro, complicado, mal-humorado e violento”, em alusão ao diretor norte-americano.
Rodolfo também falou com o g1 sobre as letras de Chorão e sobre seu potencial para “levar multidões para Cristo”. Na discografia do Charlie Brown Jr, há doze músicas em que Deus é citado diretamente (veja as principais no final da matéria). Chorão gostava de “trocar uma ideia com Deus”, frase usada por ele para batizar a faixa bônus que fecha o disco “Nadando com os tubarões”, de 2000.
Há no cancioneiro do grupo, porém, temas que remetem a questões menos materiais. Chorão volta e meia mencionava “o dom natural” que ele teve para se comunicar (expressão citada em “Uma criança com o seu olhar”). O letrista também falava bastante sobre os problemas que enfrentou antes do sucesso. Em “Não viva em vão”, cantava sobre estar só. “A vida já me derrubou, a vida já me deu abrigo / Mas a vida já me situou, que a solidão não faz sentido”, dizia Chorão na música.
Rodolfo Abrantes 3 — Foto: Divulgação
A morte do pai, em 2001, inspirou versos sempre emotivos, como os de “Lugar ao Sol”. Na canção, cantava que “azul a cor da parede da casa de Deus”. Em “Pontes indestrutíveis”, afirmava: “Tomo cuidado pra que os desequilibrados não abalem minha fé pra eu enfrentar com otimismo essa loucura”. E completava: “Os homens podem falar, mas os anjos podem voar”.
“O Chorão não tinha nenhuma rejeição à coisa de Deus. Só não se sentia confortável com religião. Eu lembro nessa conversa, em Belo Horizonte, que ele me mostrou a música em que canta “azul é a cor da parede da casa de Deus” [“Lugar ao sol”, de 2001]. E cantou inteira. É uma música muito bonita. Não bíblica, mas sobre a impressão dele de Deus”, comentou Rodolfo.
“Existia uma sede dele de algo mais, existia uma consciência de que o que ele precisava era Deus, e do jeito dele, fez muito bem”, disse Rodolfo.
“Fiquei muito triste ao saber da morte dele, porque eu tinha certeza que um dia ele ia fazer uma coisa que o tirasse da depressão. Infelizmente agora não pode fazer mais nada. Os fãs do Charlie Brown têm uma maneira muito sadia e muito nobre de honrarem a história do Chorão: fazendo escolhas que os levem para perto de Deus, para a parte da luz. As pessoas podem honrar a morte dele, em memórias, se fizerem escolhas boas, que edifiquem. E vivam”, ele afirmou.
Antes da morte do líder do Charlie Brown Jr., Rodolfo disse que “se esse cara [Chorão] começar a falar de Jesus, você vai ver multidões vindo para Cristo”.
“Deus deu dons para as pessoas. Ele tinha o dom da palavra. O que o Chorão falava a galera seguia. As pessoas estavam muito perto dele. Todo mundo vibrava, as músicas eram cantadas em coro. Se tivesse experiências com Deus ele levaria muita gente para Cristo”, ele justificou.
“A última vez foi em 2007. Eu fui gravar um CD ao vivo em São Paulo. A gente tinha muitos amigos em comum, um dele é o Tarobinha, skatista profissional, e hoje faz parte da mesma igreja que eu. Ele convidou o Chorão, ele estava em Santos. Ele pegou o carro dele, foi lá ao show, a gente conversou bastante e eu fiquei muito feliz de vê-lo ali”, contou.
“Na minha despedida dele, eu gostaria de olhar nos olhos do Chorão e falar alguma coisa que tocasse o coração dele. Infelizmente eu não posso mais”, disse Rodolfo Abrantes.
O EVANGELHO SEGUNDO CHORÃO
Relembre trechos de canções do Charlie Brown Jr que citam Deus:
“O amor é assim, é a paz de Deus que nunca acaba / Eu vou com você pra onde você for / Eu descobri que é azul a cor da parede da casa de Deus” – “Lugar ao sol”
“O melhor presente Deus me deu, a vida me ensinou a lutar pelo que é meu” – “Lutar pelo que é meu”
“Sem roupa ela é demais, também por isso eu creio em Deus… / Meu bom, meu Deus, meu bom, me traz” – “Zóio de lula”
“Tenho fé em Deus pra resolver qualquer parada Chega com respeito na minha quebrada” – “Tamo aí na atividade”
“O dom que Deus te deu / Entrou em uma história no tempo” – “Talvez a Metade do Caminho”
“Ele tem o Dom de Deus, o Dom mais puro que tem, eu digo: Amém!” – “Pra Mais Tarde Fazermos a Cabeça”
“Sou cantor, eu sou bondade, eu sou guerreiro, eu sou o irmão / O dom que Deus me deu eu dedico a vocês” – “O Lado Certo da Vida Errada”
G1