1 milhão de toneladas: o que sabemos sobre a importação de arroz pelo governo Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reiterou neste sábado (25) a intenção do governo federal de importar 1 milhão de toneladas de arroz para manter a oferta interna, afetada pela tragédia climática no Rio Grande do Sul, e segurar os preços.
“Esta semana fiquei meio nervoso porque vi o preço do arroz muito caro no supermercado. No pacote de 5 quilos, no supermercado estava R$ 36, no outro [supermercado] estava R$ 33”, comentou Lula, durante evento em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.
“Tomamos a decisão de importar 1 milhão de toneladas de arroz para que a gente possa equilibrar o preço do arroz no país”, acrescentou.
Em 10 de maio, o governo editou uma medida provisória que autoriza a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a importar, em caráter excepcional, até 1 milhão de toneladas de arroz beneficiados ou em casca.
Para facilitar a importação, no último dia 20 o comitê gestor da Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou redução a zero do imposto de importação de três tipos de arroz. Dois tipos de arroz não parbolizado e um tipo polido foram incluídos na lista de exceções à Tarifa Externa Comum do Mercosul. Pelas regras, o Brasil pôde mexer na tarifa sem consultar os demais membros do bloco.
Dois tipos de arroz não parbolizado e um tipo polido foram incluídos na lista de exceções à Tarifa Externa Comum do Mercosul, o que permite ao país mexer na tarifa sem consultar os demais membros do bloco.
Na última terça-feira, porém, a Conab suspendeu o leilão de compra de arroz importado marcado para aquele dia. A estatal compraria cerca de 104 mil toneladas de arroz importado por terceiros.
À CNN, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse que o adiamento foi feito em decorrência da portaria assinada pelo governo. O ministro confirmou ainda que o adiamento tem relação à especulação do Mercosul em relação ao valor das sacas. O bloco elevou em até 30% o preço do cereal.
70% da produção de arroz vem do Rio Grande do Sul
Cerca de 70% da produção nacional vem do Rio Grande do Sul, estado que vem sendo assolado por alagamentos, mas calcula-se que 84% das lavouras já tinham sido colhidas quando se iniciou a crise. A tragédia provocada pelas chuvas no Estado afetou a produção, com possíveis impactos na oferta e nos preços.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil produziu em 2023 cerca de 10,25 milhões de toneladas de arroz — quantidade suficiente para atender a demanda interna —, e a perspectiva era de que a safra avançasse para algo em torno de 10,5 milhões neste ano.
“Importação desnecessária”
O agro tem se manifestado contrário à medida do governo Lula sobre a importação de arroz. E entrevista na semana passada à CNN, o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, classificou a medida como “desnecessária”.
Na avaliação de Pereira, com a maior parte da colheira do estado preservada e o fato de que os demais 30% da produção nacional estão majoritariamente em regiões não atingidas pelo desastre climático, seria possível atender a demanda sem uma MP de importação.
O CEO do Carrefour no Brasil, Stephane Maquaire, afirmou que o abastecimento de arroz no país está bastante controlado, durante entrevista ao “É Negócio”, parceria entre a CNN e o NeoFeed. O programa será exibido neste domingo (26), às 20h45. O executivo disse que os varejistas, assim como os governos estadual e federal, precisam tomar cuidado para não passar o sentimento de que faltará arroz e uma sensação de pânico.
“Estamos dizendo aos nossos clientes nas lojas para limitarem um pouco a compra adicional de arroz, para não dar o sentimento de falta e pânico. Fazendo isso, estamos cuidando para não termos uma inflação muito forte do arroz”, explicou Maquaire.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi na mesma linha e defendeu, na quarta-feira, as medidas do governo.
Segundo o ministro, apesar de o País ser praticamente autossuficiente na produção de arroz, há dificuldade de escoamento do cereal gaúcho em virtude das fortes chuvas que afetaram o Estado.
“Há descasamento neste momento, o que dá margem para especulação. Não adianta comprarmos arroz somente no fim do ano porque carregaremos a inflação até lá. Quem ganha é o especulador, e não o produtor”, disse Fávaro, durante audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados.
Arroz tailandês
À CNN, Andressa Silva, diretora-executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), afirmou que a decisão deve tornar o arroz de outros países mais competitivos ao mercado brasileiro e indicou que o grão tailandês deve ser o escolhido para as importações.
A representante destaca importações realizadas pelo Brasil neste ano do país asiático e indica que a qualidade do produto tailandês é o que mais se assemelha ao do Brasil. Os cereais de países como China, Índia e Vietnã, outros grandes produtores, não se adequaria aos padrões de consumo dos brasileiros.
“O consumidor brasileiro é bastante exigente, e o mercado que mais se aproxima, em termos de qualidade, do Brasil é o tailandês”, disse.
(Com informações de Débora Oliveira, Pedro Duran e Danilo Moliterno, da CNN, e da Reuters)
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